O abandono escolar é um dos problemas persistentes e desafiadores na educação em todo país. Apesar dos indicadores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) apontarem para queda no número de desistências, a situação ainda continua crítica e com taxas elevadas. Nos anos iniciais do ensino fundamental, a taxa de afastamento é de 0,7%, enquanto que nas etapas finais sobe para 2,4%. Já no ensino médio, os dados têm oscilado pouco e estão em 6,1%. Buscando entender as principais causas e as medidas necessárias para tentar resolver esse conflito, o Edição do Brasil conversou com Thaiane Pereira, coordenadora de projetos do Todos pela Educação.
Existe diferença entre abandono e evasão escolar?
Pelo Inep são coisas distintas. O abandono é quando o aluno deixa de frequentar as aulas durante o ano letivo, porém reaparece no ano seguinte. Às vezes, como repetente muda de escola, mas continua estudando. Esses dados são catalogados anualmente.
Já a evasão escolar é a situação na qual o estudante deixou a escola ou reprovou em determinado ano letivo, mas não se matriculou novamente para continuar os estudos. É preciso ficar atento, pois os casos de abandono podem virar uma evasão escolar.
Os alunos dão alguns sinais antes de abandonar a escola?
Pode acontecer deles estarem desmotivados e sem interesse pelos estudos, o rendimento está caindo ou possuem algum problema pessoal. Alguns têm uma condição vulnerável ou precisam trabalhar. Em muitos casos é possível prever o aluno que vai abandonar a sala de aula.
Quais as principais razões que levam ao problema?
O processo de aprendizado é contínuo e requer que você domine algumas competências e habilidades para que possa adquirir outras. Na disciplina de matemática isso fica claro. É muito difícil, por exemplo, que o aluno aprenda função se não domina fração. Chega a um ponto em que não consegue mais acompanhar e acaba abandonando.
Outro fator que conta muito é o modelo de escola que temos no Brasil, especificamente no ensino médio. Ele possui 13 disciplinas, super fechadas, possibilidade de alteração. Muitas vezes são matérias que o aluno não gosta ou tem domínio. Assim, a escola se torna desinteressante para esse estudante e ele tende a não voltar mais.
Temos a questão socioeconômica. Às vezes, o jovem abandona porque quer ou precisa trabalhar. Situações que envolvem bullying também podem explicar. A escola está pouco preparada para lidar com esse tema e precisam preparar o aluno e trabalhar suas habilidades socioemocionais.
Quais podem ser as consequências do abandono?
As mais perversas possíveis. Além de estar atrasado nos estudos, pode ter dificuldade em encontrar um trabalho mais qualificado. Também é ruim para o futuro do país, pois você tem pessoas menos instruídas e faz com que o desenvolvimento seja prejudicado. O ideal é que tivéssemos abandono zero. E para que isso aconteça seria necessário diversas mudanças e adaptações no modelo de escola atual.
Como é possível evitar que jovens abandonem os estudos?
Acredito que o abandono é uma consequência de vários fatores que acontecem no dia a dia da escola. Existe uma série de políticas que tem que ser desencadeadas de forma sistêmica para que esses índices melhorem. Uma delas é a reestruturação da carreira dos professores para que eles tenham uma melhor formação continuada e planos de carreira. Isso impacta muito, pois eles ficam mais preparados. Também é necessário programas que tocam no pedagógico, como ter materiais mais bem estruturados e adequados para a realidade da sala de aula, além de programas de reforço e recuperação de conteúdo.
O novo ensino médio também é interessante em vários aspectos. O modelo prevê um pouco mais de protagonismo do jovem e prepara para a sociedade e mercado de trabalho. Não só foi ampliado o tempo na escola, mas tem uma nova organização curricular comum pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Também tem uma parte flexível, que são os itinerários formativos, com disciplinas mais transversais e que podem fazer diferença na vida dos estudantes.
A taxa de abandono nas escolas de tempo integral é menor? Quais são as razões?
As escolas de tempo integral têm um índice de abandono muito menor do que as demais. Uma das explicações para isso é que o professor está mais presente, tem uma interação maior com os alunos, disciplinas eletivas e os jovens possuem mais protagonismo. Esse também poderia ser mais um caminho conhecido para evitarmos a desistência, sendo preciso apenas implementar as mudanças.