Home > Artigo > O dom da fúria

O dom da fúria

O estilo Bolsonaro (PSL) de ser faz estragos na sua própria imagem, provoca inquietação nos independentes, irrita adversários e galvaniza apoio na sua tropa. Os seguidores gostam. É um estado de campanha permanente. Ninguém acreditava na possibilidade de manutenção do tom em tão alto grau, mas ele sobrevive. Claro que os filhos 1, 2 e 3 contribuem e muito. Ministros que em outras épocas foram chamados de aloprados vão atrás do chefe e a mistura está formada. Claro que a aprovação despenca.

Normal. Divide o meio político já tão dividido. Esperado. Só que a espuma permanece e ninguém discute problemas reais do país. Ninguém fala das filas enormes que mostram o quadro de desemprego e não há quem reclame da parada nos negócios, só da última polêmica levantada pelo próprio presidente nas saídas do Palácio da Alvorada. Este é o Bolsonaro e ele foi eleito assim, não há surpresas. Desavisados são os que votaram nele na espera de que ele não cumprisse o que prometeu, como sempre. Perderam.

O governo anda porque tem ilhas de boa gestão. Ministros competentes fazem o chamado dever de casa. Na saúde, o ministro Luiz Henrique Mandetta usa a sua experiência e desenvolve projetos e mantém em funcionamento com o orçamento menor, a grande estrutura da saúde do Brasil: o gigante Sistema Único de Saúde (SUS). Na tecnologia, o astronauta Marcos Pontes tem o apoio importante do ex-deputado, o secretário Júlio Semeghini. Está gerindo uma pasta gigante, com pouca verba e fazendo a coisa andar. O ministro Sergio Moro tem progressos na Justiça e Segurança Pública e Paulo Guedes deu credibilidade e nem precisou dos planos que geralmente iniciam os governos. Osmar Terra, Abraham Weintraub e Tarcísio Freitas são outros ministros que são considerados bons, mas a ministra da Agricultura, Tereza Cristina recebe elogios até de adversários e pode ser considerada a funcionária do mês, com direito a fotografia na parede do Palácio e tudo.

O que é intrigante nesta história é que ninguém deve esperar comedimento do presidente Bolsonaro e nem espere que ele não entre em novas polêmicas. Vai entrar, vai falar besteira e vai recuar várias vezes. Isso é a realidade e ele está apenas entregando o que prometeu e vendeu. Incrível né? Mas estamos há 8 meses de um governo de 4 ou até de 8 anos. Sabe o que significa? Que muitas emoções nos esperam. Tanto melhor, agora sabemos que de tédio é que não morreremos nos próximos anos. Que Bolsonaro seja Bolsonaro e pronto.

*Jornalista e correspondente da Jovem Pan em Brasília e comentarista de política da Redevida de Televisão
josetrindadejp@gmail.com