A nutricionista Priscilla Damasceno é mãe de um casal. Recentemente, ela e toda a sua família foi convidada para um casamento e, por isso, decidiram sair para comprar roupas novas. Para João Victor, seu primogênito de 12 anos, ela comprou uma camisa social, que custou R$ 49,99, uma calça jeans no valor de R$ 39,90 e um sapatênis por R$ 85,00. Para sua menina, Alice, de 9 anos, ela comprou um vestido no preço de R$ 159,80 e um sapato de R$ 44,99.
No total, Priscilla gastou R$ 174,89 com João e R$ 204,79 com Alice. O que chama a atenção é, mesmo tendo comprado uma peça a menos para a filha, ela pagou uma diferença de R$ 30 na compra. “E não parou por aí, levei ela no salão para fazer um penteado e custou R$ 50,00, isso porque também arrumei o cabelo e fiz a maquiagem, então conseguimos um valor mais em conta”, diz.
A nutricionista acrescenta que gastar mais com Alice é bastante comum. “Tudo para menina é mais caro. No Natal ela descobriu que o João ganharia um carrinho de controle remoto e ela quis um na cor rosa, que é a preferida dela. O do João custou R$ 94,90 e o dela, R$ 114,90”.
A diferença na rotina de gastos entre os gêneros é bastante comum. Prova disso é que uma pesquisa da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) mostra que os pais de meninas gastam 30% a mais do que com os meninos. Para o presidente da instituição Reinaldo Domingos, são vários os motivos, mas, o principal é o fato do mercado ter mais oferta para as mulheres. “O sexo feminino é muito mais visado e a motivação para consumir começa mais cedo para elas”, explica.
Ele adiciona que é ofertado muito mais detalhes para as meninas. “Brincos, pulseiras, anéis, colares, enfeite de cabelo, maquiagem colorida, por exemplo. Tudo isso é posto no cotidiano delas e, querendo ou não, fazem os pais gastarem mais. Além disso, as meninas têm mais opções de roupas e peças de brinquedo. Enquanto para um menino, um conjunto de camiseta e short está bom, as meninas são ensinadas a querer bolsa, maquiagem e muitas outras coisas”.
Além do incentivo ao consumo, os produtos voltados para o público feminino são comprovadamente mais caros, é o que os especialistas chamam de “taxa rosa”. Uma pesquisa feita pela ESPM mostra que a discrepância começa na 1ª infância, quando a roupa feminina é cerca de 23% mais cara. Durante a vida, elas pagam até 12,3% a mais em produtos de diversos segmentos.
A era da influência
As redes sociais também passam a ser um grande portal de influência para as crianças. “Essas mídias trouxeram uma democratização, todo mundo tem a possibilidade de enxergar promoções e antes não era assim. As crianças mais humildes, por exemplo, não tinham acesso. Hoje, tanto um, como outro, têm as mesmas oportunidades de acesso”.
Educação financeira
Mas, sendo menino ou menina, os pais precisam aprender a educar financeiramente seus filhos. “Isso auxilia a serem adultos capazes de administrar recursos. No caso das meninas, que sofrem esse estímulo grande ao consumo de coisas supérfluas, isso pode fazer com que ela seja vítima do consumismo e até mesmo endividar a família”, afirma Domingos.
O Abefin criou uma série de dicas para ajudar os pais a educarem financeiramente os filhos. A primeira é ensinar o ato de doar, incentivando-os a passarem para frente roupas e brinquedos que não usam mais. Isso vai auxiliar com que sejam adultos menos egoístas e sensíveis a necessidade de outras pessoas. A mesada também é uma boa pedida, pois a criança passa a refletir sobre hábitos de consumo mais saudáveis.
Incentivar o sonho das crianças também é importante. O ideal é que eles listem pelo menos três a serem realizados em curto prazo (1 mês), um em médio prazo (6 meses) e outro em longo prazo (1 ano). Assim, eles terão motivos para poupar e vão aprender que dessa forma é possível conquistar mais coisas.
A criança também precisa aprender a diferenciar desejo de necessidade, sendo assim, os pais devem ajudá-la em suas escolhas. É interessante que ela possa reconhecer que o dinheiro é algo difícil de ser alcançado e, portanto, deve ser valorizado e utilizado de forma consciente.
Por fim, os pais devem dar exemplo. Segundo o Abefin, as crianças vão aprender a agir vendo as atitudes dos pais. Portanto, é preciso que eles se esforcem para lidar com as finanças de forma consciente e sustentável, criando planejamentos que priorize a realização dos sonhos dos integrantes da família.