Quem puxa o grito é um corredor experiente. Mas ele não está sozinho. Cem outros, entre iniciantes, veteranos e curiosos, engrossam o coro pelas ruas de Belo Horizonte. Calma Clima, nome do running crew – grupo de pessoas que se reúnem para correr pela cidade – é o grito de guerra que se ouve. Fora do país, a modalidade já é febre desde o ano passado. Por aqui, ganhou corpo depois que o jornalista Bernardo Biagioni, que já corria pela Mata do Jambreiro (Nova Lima), que ele chama de “Quintal de BH”, resolveu montar um grupo no Whatsapp para reunir todo mundo que pedia para ir junto.
“Eu já corria há um tempo pela cidade, sobretudo, pelas marginais. Na Serra do Curral, Nova Lima, há alguns lugares que não tem tanta circulação de pessoas. Mas só esse ano, o Calma virou um projeto. Hoje, temos um grupo de pessoas muito assíduo que organiza e ajuda na elaboração de rotas e em propostas para o projeto”, conta Bernardo.
Correndo ou caminhando, pouca importa. O importante é manter o ritmo e a disposição. Com objetivo de explorar a cidade e, claro, se exercitar, o grupo percorre, nas noites de terças-feiras, entre 5 a 7km. Esqueça praças e pistas de caminhadas, o crew é avesso a monotonia. O ponto de encontro do último corre – como eles nomeiam suas corridas – do Calma foi na Praça do Papa com destino à Savassi. Mas já foi o Complexo da Lagoinha, o Centro, o Santa Tereza, da Estação Central à Calafate e muitos outros.
“Belo Horizonte sempre se pautou pela falta. Historicamente, as pessoas sempre falam que ‘falta isso, falta aquilo’ e o Calma tem muito a ver com essa ideia de mostrar que caminhos não faltam. A gente tenta se projetar como turista, visitando a própria cidade, com a ideia de construir um lugar mais rico, com mais sentidos, caminhos e propostas”, define Bernardo.
Unidas no corre
Em pouco tempo, a corrida mostrou um grande potencial de conexão a esse grupo de exploradores. Conectadas e solidárias, as corredoras viram a oportunidade de ajudar outras mulheres.
Em julho, a designer gráfica Maria Silvia Tavares e cerca de 60 outras do crew fizeram um corre só de mulheres. O ponto de encontro escolhido foi a Casa de Referência da Mulher Tina Martins, projeto que orienta, acolhe e abriga mulheres em situação de risco, no Santa Efigênia, na região Centro-Sul.
Antes da corrida, elas se alongaram com as moradoras e doaram à Casa, kits de higiene, cosméticos e perfumaria. “Convidamos as meninas para participar do alongamento com a gente, explicamos o quanto isso é importante para mente, corpo e autoestima, até para elas aprenderem e aplicarem isso em outro dia. Junto com os kits, entregamos cartas de empoderamento”, diz Maria.