Após tantos desfechos na política brasileira nos últimos anos, 2018 pode ser para muitos uma brisa de mudanças, visto que é o ano de eleição para presidente, governador, senador e deputados.
Pensando nesse cenário, o autor e doutor em ciência política e professor da UFPE, Adriano Oliveira e, o mestre em estatística, Carlos Gadelha, realizaram uma pesquisa sobre o comportamento do eleitor em várias cidades brasileiras que resultou no livro, recém-lançado, intitulado “O eleitor é um enigma? Visões de mundo, desejos e hábitos”.
A obra revela o perfil do eleitor brasileiro por meio de algumas questões como: prefeitos que investem em segurança pública são reeleitos? Cuidar da saúde pública aumenta a probabilidade de o prefeito conquistar popularidade? Existem eleitores que comercializam o seu voto? Há onda conservadora no Brasil?
Para entender esse panorama e se haverá mudança no modo do eleitor brasileiro votar, conversamos com Adriano Oliveira.
Como podemos descrever o eleitor brasileiro?
A pesquisa revela um eleitor que tolera. O que significa que ele é pragmático e tem uma demanda por segurança pública e saúde. Contudo, quando reconhece que esses serviços funcionam, ele vota pela reeleição do político. Nós temos um eleitor jovem que prega pela presença do Estado no âmbito de políticas educacionais, pois tem o desejo de fazer um curso superior. E, também, há o eleitor que não é sofisticado – vota a partir de atalhos e objetivos –, que não são os partidos políticos e sim o bem estar econômico, afinidade com o candidato e suas ações. Devido a isso, há uma tendência desse político ganhar o voto.
Enfim, isso não é um enigma, as pesquisas quantitativas podem identificar quais são os sentimentos dos eleitores brasileiros.
Com base em sua pesquisa, 2018 será favorável para qual tipo de político?
Teremos uma eleição tradicional. Haverá um eleitor que irá cobrar por melhores serviços públicos, bem estar econômico, sentimental e emocional – verá o passado, o carisma do candidato e até sentirá pena – e, também, o revoltado que quer mudanças. Mas o eleitor que irá predominar é o governista, antipetista e o lulista, sobrando pouco espaço para o novo.
As mídias sociais interferiram na maneira de votar do brasileiro?
Não, eu considero que a importância da mídia social está muito valorizada, pois quando se posta algo pode até ser que gere alguma polêmica, mas as pessoas que estão ali já têm uma certa empatia, então não há busca pelo contraditório. O segundo aspecto é o fato que não há um alto percentual de brasileiros que utilizam a mídia social para debater política. Nós temos uma parcela do eleitorado que não permite que um candidato seja eleito só em virtude das redes sociais. E, por fim, não podemos desprezar o papel da TV como instrumento de divulgação das candidaturas, pois ela chega mais rápido e atinge muito mais pessoas, seja por noticiário ou debates.
Mesmo com a insatisfação do eleitor em relação aos seus representantes, a cada eleição os mesmos nomes e partidos tomam posse. A que se deve isso?
Na verdade, nós temos duas questões: a primeira é a própria regra eleitoral. Agora, o financiamento público impede a renovação, pois os recursos públicos estão concentrados em três partidos: PMDB, PT e PSDB. Em segundo lugar tem a própria oligarquia partidária, pois o líder da legenda define quem irá receber os recursos para a campanha.
Os grandes escândalos políticos dos últimos anos causaram impacto positivo na política brasileira?
Acredito que eles deixaram o eleitor mais irritado com as classes políticas e isso fez com que a cobrança aumentasse. Mas será que isso terá consequências na escolha do eleitor? Aí é uma outra questão. Enfim, o eleitor está mais irritado? Está. Tem cobrando mais? Tem. Mas isso não significa que ele terá um comportamento de renovação. Vejo que mesmo diante dessa irritação o eleitor ainda irá votar de modo tradicional.
Empresários de sucesso têm se arriscado no meio político. Existe um novo perfil surgindo?
Há uma interpretação equivocada por parte desses candidatos. Eles sabem que o eleitor deseja o novo e se colocam assim. No entanto, há um miopia, uma vez que não há uma estrutura partidária e financeira, a mensagem dele não chegará ao eleitor. Não adianta existir um candidato novo, com diferentes propostas e uma outra maneira de fazer política, pois ele tem de chegar no eleitor. E será que esses candidatos chegaram? Eu prevejo que não, já que a estrutura partidária brasileira não permite.
Você acredita que a política deve ser inserida na formação educacional das crianças e adolescentes? Isso pode mudar o perfil dos futuros eleitores?
Eu acho que isso é algo desnecessário, pois, em primeiro lugar, a educação tem que funcionar, independente de se ter uma cadeira política ou não. Precisamos ter um ensino médio que prepare o aluno para o mercado de trabalho e para profissões mais complexas. Você conquista eleitores por meio de novos hábitos e costumes políticos fazendo com que o cidadão veja que a política pode transformar sua vida e, consequentemente, ele confiará no candidato.