As brasileiras estão reformulando os planos de maternidade e deixando para ter filhos depois dos 30 anos. De acordo com o estudo “Saúde Brasil”, o percentual de mães nessa faixa etária cresceu na última década, passando de 22,5% em 2000 para 30,2% em 2012. Já o número de mulheres com menos de 19 anos que tiveram filhos caiu de 23,5% para 19,3% no mesmo período.
Há aquelas que estão optando por adiar ainda mais a gestação: segundo dados do Ministério da Saúde, divulgados em fevereiro deste ano, o número de mulheres com mais de 40 anos que tiveram filhos subiu 49,5% em 20 anos, passando de 51.603 em 1995 para 77.138 em 2015.
Esse é o caso da administradora de marketing, Adriana Torres, 45. Ela conta que a gravidez do seu filho Leon não foi planejada. “Falávamos a respeito de ter um filho, afinal, eu estava com 39 anos e meu companheiro com 48 anos. Ele era recém-separado e tinha duas filhas do casamento anterior, então decidimos deixar rolar. Eu não acreditava que engravidaria naquela altura do campeonato – mas a voz da minha mãe, falecida 3 anos antes, me dizia internamente que sim, o que de fato aconteceu”.
Adriana diz que, antes de ter o Leon, sofreu muita pressão de sua família para ter filho, porém quando soube que estava grávida, alguns parentes não aprovaram a gestação.
Ela relata que foi uma gravidez natural, saudável e que engordou cerca de 10 quilos. “Claro que não foi fácil ser mãe aos 40 anos. O lado bom é que eu não precisava mais provar que sou uma excelente profissional, isso ficou para os 20, 30 anos, então pude colocá-lo como prioridade na vida. O lado ruim é que gostaria de ter tido mais filhos. Não é a idade que vai determinar a qualidade da sua relação com seu filho e sim sua vontade e capacidade de se abrir para este amor que revolucionou a minha vida para sempre!”
Mudança no perfil
O psicólogo e mestre em análise de comportamento Gustavo Teixeira diz que essa mudança do perfil da maternidade tem relação com duas conquistas históricas femininas, alcançadas no século passado – os métodos contraceptivos e a longevidade. “Agora, as mulheres podem escolher quando terão filhos e, com o aumento da expectativa de vida, elas têm mais tempo para se programar. Além disso, isso está associado a outra questão prática, que permite conseguir primeiro segurança profissional e financeira que, geralmente, ocorre a partir dos 30 anos, após ter estudado, conseguido um bom emprego e construído um patrimônio”.
O ginecologista Sandro Sabino explica que uma boa gravidez está mais ligada à hábitos da futura mãe do que, necessariamente, a idade. “Se comparar uma gestação de uma mulher de 45 anos saudável e com uma de 21 anos, que fuma, tem diabetes e é obesa, obviamente, a que se cuida vai ter uma gestaçãoo melhor”.
Porém, em relação às chances de engravidar, o médico diz que a taxa de fertilidade diminui aos 35 anos e despenca depois dos 37 anos. “Após essa idade, o óvulo perde a qualidade e envelhece, o deixando mais suscetível de ter algum problema. Mas é importante destacar que uma vez a gravidez ocorrida, o mais importante é a saúde da mãe, que afeta o bebê. Não tem uma idade certa para engravidar”.
Congelamento de óvulo
Sabino ressalta que, atualmente, os casais estão optando por congelar os óvulos, pois no momento em que começam a tentar ter filhos, a taxa de fecundidade já está baixa ou as mulheres já começam a ter problemas de saúde que dificulta engravidar. Segundo o médico, o número de pessoas que procuram a clínica para congelar os óvulos têm dobrado ano após ano.
“O que a gente faz é congelar e mantê-los imunes ao tempo, ou seja, se que colheu quando a mulher tinha 30 anos, se implantarmos esse óvulos quando ela tiver 50 anos, as chances dela são as mesmas de quando tinha 30”.
O ginecologista salienta que o processo de congelamento de óvulos deve ser entendido como apenas mais uma possibilidade para engravidar, mas que o ideal é que o processo aconteça naturalmente. “Não congelamos os óvulos para que no futuro ela faça o tratamento. Esse procedimento abre mais uma margem de opção para a mulher”.
Para congelar óvulos, a mulher poderá desembolsar de R$ 6 mil a R$ 10 mil, sendo que o processo é feito apenas uma célula por vez. Caso opte por guardar mais, esse valor é multiplicado pela quantidade de óvulos que deseje manter na clínica.