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Valorização do acúmulo de atividades prejudica trabalhadores e negócios

“Não posso dormir agora, tenho muita coisa para entregar”. “O que você faz de meia noite às 6h? Na sua idade trabalhava 18h por dia!”. Frases típicas que ouvimos a todo instante, pois a pressão de trabalhar muito e cada vez mais são realidades deste século. Atualmente, mais de 30% dos 100 milhões de trabalhadores brasileiros sofrem com a Síndrome de Burnout (conhecida como a síndrome do esgotamento profissional), segundo estimativa da International Stress Management Association (Isma).

Segundo especialistas, esse número aumenta a cada ano e causa danos à saúde e à economia. No Brasil, a falta de produtividade causada pela exaustão gera prejuízo de 3,5% do nosso PIB, conforme cálculos feitos pela Isma.

Para saber mais sobre o assunto, o Edição do Brasil conversou com o Head Master Coach da Casa Coaching de Belo Horizonte, Christyano Malta, que é formado em Direito pela Faculdade Milton Campos e tem MBAs em Gestão Estratégica e Marketing, Gestão de Projetos, Coaching: Life e Executive e, ainda, possui 4 formações na área com reconhecimento internacional.

Hoje em dia o trabalho é visto como um símbolo de status. Por que isso acontece?

O trabalho é visto como um símbolo de status por duas razões: a primeira é porque não há tantas vagas. Então, qualquer pessoa que tenha uma é destacada, como se ela fosse melhor que as outras. Se pensarmos na população economicamente ativa 1 a cada 2 brasileiros está sem emprego. A segunda, é que as pessoas que estão empregadas acreditam que existe uma estabilidade, mas na realidade não há.

Além disso, o trabalho também é um símbolo de segregação – quando a pessoa faz mil coisas na área profissional –, porque, hoje, quando alguém fala que a vida não está corrida ela é vista como uma pessoa desocupada, fora da realidade.

A busca pelo poder e a competitividade no mercado de trabalho é um dos fatores dessa valorização?

Não acredito, pois na verdade isso é muito negativo. Vejo que as pessoas com altos níveis estresse estão caminhando para a síndrome do esgotamento profissional e para a do pensamento acelerado. Elas estão com excesso de competitividade e, às vezes, mais que isso, há uma pressão pelo trabalho, resultado e meta. O que faz com que elas estejam no final do funcionamento de suas mentes, fazendo com que a produtividade, no geral, caia gradativamente.

Por que as pessoas excedem seus limites? Quais são as possíveis causas?

Cerca de 50% das pessoas tem dificuldade em dizer não. Assim, elas vão pegando mais atividades e funções no trabalho, até porque uma empresa que tinha três trabalhadores, agora só tem um, pois os cortes foram da ordem de 60% a 70%. Com isso, as trabalhadores tiveram que absorver essas atividades, alguns por medo de perder o emprego, por projeção de estabilidade e, também, por não saber dizer não.

Vale ressaltar que essa é uma característica de quem tem elevados níveis de estresse, sem levar em consideração o descanso necessário que a mente e o corpo necessitam.

A falta de tempo para os outros setores da vida podem ser prejudiciais de que maneira?

Uma pessoa que não cuida da sua saúde física, emocional, psicológica e espiritual está fadada a viver um excesso de determinismo, ou seja, com uma extensa quantidade de coisas a fazer. Isso faz com que a qualidade de vida caia totalmente, gerando outros problemas, como falta de sono, ansiedade, angustia etc.

Além disso, a falta de sono constante pode fazer com que ela tenha os níveis elevados de cortisol (serve para ajudar o organismo a controlar o estresse, reduzir inflamações, contribuir para o funcionamento do sistema imune e manter os níveis de açúcar no sangue constantes, assim como a pressão arterial) que pode causar a uma depressão química.

Também existem relatos de depressões, assim como a síndrome do esgotamento profissional, que leva ao power stress no qual essas pessoas não conseguem descansar.

Como as pessoas podem perceber que esse excesso pode fazer mal para elas?

A melhor maneira é fazer com que elas descansem. Por exemplo, iniciar uma atividade de mindsulness (calma mental) – a Casa Coach oferece essa modalidade –, ou até mesmo um outro processo de coach orientado para a conscientização, valorização do trabalho e identificação dos potenciais.

É importante que a pessoa se conheça para conseguir controlar a mente e não ser controlado por ela. O estresse pode ser comum, mas não é normal, pois é um mal funcionamento do corpo. A pessoa precisa entender que tudo em excesso faz mal.

Como alcançar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional?

A receita de sucesso é, exatamente, o equilíbrio. Quando estamos alinhados com o que pensamos, falamos e agimos, não há excesso de gasto de energia. Então controlar esse gasto é a grande dica que posso dar para uma balança equilibrada entre a vida pessoal e profissional.

O segredo é controlar o estresse com práticas diárias que possam levar a um descanso mental, corporal e espiritual. As pessoas precisam ter consciência de que descansar é um treino e, também, um trabalho.