Queiram ou não queiram a eleição de Alexandre Kalil para prefeito de Belo Horizonte foi a eleição do voto útil, da negação consciente da política e do eleitor conectado. E vou além: cravou, de vez, no coração do PSDB-MG à estaca de madeira que sinaliza que Aécio perdeu o trono. Rei posto, rei morto.
Dentre outras constatações, ficou claro que o João Leite é o Hélio Costa tucano. Discurso plástico, rostinho lisinho, mas que não empolga, não dialoga com quem realmente importa: o seu João e a dona Maria, ali da periferia, que pega ônibus de madrugada para o trabalho, que leva marmita e que, no fim do dia, encara 2 ou 3 horas de “busão” novamente.
A campanha de João Leite foi uma sucessão de fracassos, a exemplo da que foi a do Pimenta da Veiga em 2014. Sinceramente, é difícil pensar que a Andrea Neves concordou com estratégias tão simplistas, burras mesmo. Qualquer jeca puxa-saco de prefeito de interior e que se mete a marqueteiro conseguiria propor algo melhor. Conseguiria ser mais comunicativo. É a máxima: comunicação não é o que se fala, é o que se entende.
É incrível a capacidade que o PSDB tem de perder para si mesmo e depois chorar o leite derramado – desculpem a comparação! Verdade é que fora a eleição do Aécio aqui em Minas, em 2002, muito mais pela ajuda generosa de Itamar Franco, que rompeu e não apoiou Newtão, o partido não tem quem pensa no todo. Quem fazia esse papel era o poderoso ministro das Comunicações da era FHC, Sérgio Motta. Depois dele, tchau.
Verdade é que de 2002 até 2014 Aécio acostumou-se a navegar em águas tranquilas e, com o peso da máquina, ter todo mundo ao seu dispor. Voltemos lá atrás: em 2006, a reeleição foi tranquila. Em 2010 fez Anastasia contra Hélio Costa, que não precisa de desenhos para ninguém entender o quadro. E, em 2014, achando que elegeria um cidadão que muita gente nem lembrava que existia, se deu mal ao encarar o peso da máquina petista, que, não se enganem, não é de se subestimar.
Isso até seria assunto para outra análise, mas a cadeia de informações é importante para se entender que política é uma roda gigante: sobe e desce. E descer é desagradável. Vejamos agora o prefeito Marcio Lacerda: tinha tudo para bancar uma candidatura leve, que era a do Paulo Brant, que poderia ter encarnado um discurso semelhante ao do João Dória, em São Paulo, mas preferiu abrir mão e ver no que dava. As pedras rolaram. Perdeu Aécio. Perdeu Marcio. E o futuro ex-prefeito corre o risco de ser o que diz o verso do Manuel Bandeira: “a vida inteira que poderia ter sido e que não foi”.
Concluo. Não tenho a falsa esperança de que um governo Kalil será a solução milagrosa para todos os problemas da nossa capital. Até porque, como já dizia o jornalista americano H. L. Mencken, “para todo problema complexo, uma solução simples é geralmente errada”.
Só sei que não se pode ser prefeito de uma cidade como BH negando a política, a negociação, os apoios e as alianças. Com alguém Kalil terá que governar. Resta saber com quem e com quais intenções e propostas.
E em tempo: mais que Kalil, se existe um vitorioso nessa eleição louca de 2016, ele tem nome: Vittorio Medioli. Aguardem!
PS. Dedico esse texto a todos os militares do Batalhão ROTAM, unidade de Elite da nossa Polícia Militar, onde meu pai foi um dos fundadores e comandantes, e que, por motivos evidentes, gostaram do resultado da eleição municipal. Também gostei.