O aumento nos casos de febre amarela tem alarmado os brasileiros. Um balanço da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) indicou que 32 pessoas morreram da doença em Minas. E a situação pode piorar, já que 51 óbitos estão sendo investigados e o total de casos notificados passou de 272 para 391. Além disso, três pessoas morreram no Estado de São Paulo. No Espírito Santo, são 22 casos suspeitos e três mortes estão sob investigação, sendo que um caso já foi confirmado.
Mas, no que se refere à patologia, muitas são as informações e dúvidas. Por isso, o Edição do Brasil conversou com o pesquisador e virologista da Fiocruz MG, Pedro Augusto Alves, sobre o assunto.
Sobre a doença: O que é a febre amarela e quais são os seus sintomas?
A febre amarela é o que chamamos de arbovirose, pertencente a um conjunto de viroses que passam dos artrópodes para os humanos. A pessoa é infectada a partir da picada do mosquito transmissor e, no caso da febre amarela, são dois, o Aedes aegypti, e o Haemagogus.
A doença apresenta vários sinais. Em alguns casos, há o comprometimento do fígado, apresentando formas amareladas no corpo. Isso se dá por consequência de uma lesão hepática causada pela falha do órgão. É daí que veio o nome febre amarela. Além disso, é comum a pessoa ter febre, mal estar, dores no corpo e, em ocorrências mais graves, até sangramentos.
Quais são as formas de transmissão?
Existem duas formas de transmissão: silvestre e urbana. No meio silvestre, o mosquito Haemagogus pode transmitir a doença para o macaco e o ser humano, eventualmente, adentrar essa área deles e também ser contaminado. Inclusive esse indivíduo pode trazer o vírus para a área urbana, infectando o Aedes aegypti, iniciando o ciclo.
A febre amarela tem tratamento?
Não. A doença em si não possui tratamento. A partir do momento que o paciente apresenta os sintomas da doença, o cuidado realizado é apenas para aliviar os sinais.
Por que algumas pessoas se curam e outras morrem?
Na verdade, a evolução da doença vai depender de vários fatores que podem ser relacionados ao próprio paciente, como sua imunidade. E pode variar também da amostra viral, porque o vírus pode se apresentar de forma mais branda em alguns casos e violenta em outros. Mas, em média 15% dos casos são graves, contudo, devido a todos esses fatores, não é possível saber o motivo do agravamento de cada paciente.
Sobre a vacina: Quem tomou a primeira dose, precisa tomar a segunda?
Sim. A orientação do Ministério da Saúde é de que se vacinem as crianças com a primeira dose a partir dos 9 meses e depois aos 4 anos. As crianças que receberam as duas vacinas, já estão imunes. Mas, hoje, existe uma grande parte dos adultos que não foram vacinados dessa forma. Por isso, eles precisam conferir se tem apenas uma dose, se sim, é necessário tomar a outra. O intervalo entre uma dose e outra para os adultos é de 10 anos.
Há exceções?
Sim. Os idosos acima dos 60 anos precisam de avaliação médica para saber o risco/benefício da vacinação. Mulheres grávidas também não devem tomar, mas, dependendo da região em que ela mora, um médico deverá avaliar o risco/benefício dessa vacinação. Além disso, crianças com até 6 meses também não podem ser vacinadas.
A segunda dose pode causar reações em algumas pessoas?
Pode. A pessoa pode reagir contra a vacina, mas, a maioria dos casos reage de forma benigna. Isso também acontece com outras vacinas, como, por exemplo, a H1N1, no entanto, não é nada que irá prejudicar a saúde.
Sobre o surto: Por que ele começou?
O surto de febre amarela acontece de janeiro a abril, como ocorreu em Minas, na região de Diamantina, em 2003 e, em Goiás, em 2008. Todos esses surtos foram nesse mesmo período do ano. Mas é importante salientar que, até o momento e desde 1942, não tivemos nenhum caso nas zonas urbanas, muito, provavelmente, pela vacina, já que as ocorrências urbanas necessitam de um vetor capaz de transmitir o vírus.
O que pode ser feito para controlar essa situação?
A prevenção. Sabemos que o clima quente aumenta as chances de proliferação do mosquito. É preciso um controle para evitar que isso aconteça, e a principal arma é a vacina. O vírus ainda não chegou na área urbana e as chances disso acontecer são bem remotas, porque seria preciso que as pessoas o trouxesse para cá, mas para ele se reproduzir seria necessário uma população de vetores competentes para despertar a infecção. Acontece que, hoje, cerca de 70 a 80% das pessoas estão vacinadas, por isso o risco de um surto é pequeno. O vírus não conseguiria se estabelecer na população, uma vez que a capacidade vetorial do Aedes aegypti, para a febre amarela, não é tão grande quanto a capacidade dele de transmitir outros vírus, como o da dengue, por exemplo.
É importante salientar que mesmo em épocas de surtos, como o de agora, a vacina gera imunidade em 91% da população que a toma. E essa imunidade vem em torno de 15 dias após o procedimento. Então, os meios que temos de controlar o problema se mostram eficazes acima de tudo.