Quarenta e cinco anos atrás, a mídia e o mundo voltaram suas atenções para acompanhar de perto o desenrolar do assalto a um banco em Estocolmo. “Confio plenamente nele, viajaria por todo o mundo com ele”, disse Kristin Enmark em referência à Jan Olsson, homem armado que manteve ela e três colegas reféns durante 6 dias de ameaças, exigências e troca de tiros com policiais. Ela, inclusive, brigou com as autoridades e defendeu Olsson, garantindo que ele se entregasse à polícia são e salvo.
O termo Síndrome de Estocolmo não existia até então e só a partir de 1973, em referência direta a este primeiro caso, o vínculo emocional que algumas vítimas podem desenvolver em relação ao seu sequestrador ou opressor leva este nome. Relativamente recente, esse fenômeno psicológico é cercado de mitos e poucos estudos científicos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) não reconhece a síndrome como patologia e o estudo científico mais recente sobre este comportamento é de 2008. Em “Síndrome de Estocolmo: diagnóstico psiquiátrico ou mito urbano?”, um grupo de pesquisadores escandinavos se debruçaram na análise das características em comum de 12 casos divulgados pela mídia inglesa de vítimas da chamada síndrome. Quatro características em comum foram encontradas entre cinco casos: as vítimas sofreram ameaças diretas, inclusive de morte; foram mantidas em isolamento, tiveram a oportunidade de escapar durante seu período de cativeiro, mas não o fizeram e ainda demonstraram simpatia pelos sequestradores posteriormente.
O instinto de sobrevivência pode levar o ser humano a ter comportamentos incompreensíveis em um primeiro momento, mas que em uma análise mais profunda, não são tão ilógicos quanto parecem. Psiquiatras especulam que esta ligação emocional desenvolve-se como parte do mecanismo de defesa das vítimas que, ao permitir que elas se simpatizem com o opressor, acabam aceitando a situação com mais tranquilidade, o que pode ajudar a aumentar as possibilidades de sobrevivência dos reféns.
Segundo o psiquiatra e professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais Paulo Marcos Brasil, como a condição não é considerada um transtorno psiquiátrico, não há um tratamento específico para pacientes diagnosticados com a síndrome. “É recomendável que a vítima passe por uma avaliação psiquiátrica para identificar se desenvolveu condições como os transtornos de humor ou de ansiedade em decorrência do estresse vivenciado pelo sequestro e ou abuso”, explica.
Após o trauma, vítimas podem desenvolver outras condições psíquicas. “Uma pessoa submetida a uma situação de estresse psíquico pode desenvolver consequências a longo prazo como depressão, transtorno do estresse pós-traumático e outros. Nestes casos, o tratamento deve ser direcionado para o quadro psiquiátrico que, eventualmente, a pessoa tenha desenvolvido”, acrescenta o psiquiatra.
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