Uma das experiências mais importantes tanto para a mãe quanto para o bebê é a amamentação, seja por questões afetivas ou de saúde. Estudos demonstram uma redução de até 6% do câncer de mama a cada ano que a mulher amamenta e queda de 13% na mortalidade em crianças menores de 5 anos por causas preveníveis.
Esse processo é tão importante que, desde 2017, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) criou o Agosto Dourado, mês dedicado a incentivar e estimular a amamentação. Além disso, é válido ressaltar que a cor escolhida para campanha significa o “padrão ouro de qualidade” do alimento.
A pediatra Isabela Miranda reitera que o leite materno exerce uma função primordial no desenvolvimento e na proteção contra infecções e alergias na criança. “A amamentação favorece o desenvolvimento dos ossos e fortalece os músculos da face do bebê, facilitando o desenvolvimento da fala, regulando a respiração e prevenindo problemas na dentição. Por conter substâncias que aumentam o desenvolvimento cerebral, melhora também a cognição. Em longo prazo, é capaz de prevenir também doenças crônicas, como obesidade, diabetes tipo 1 e tipo 2, hipertensão e hipercolesterolemia”.
A pediatra acrescenta que nenhuma outra estratégia nutricional alcança o impacto da amamentação na redução de morte até os 5 anos. “É fundamental ressaltar que o leite materno possui todas as necessidades nutricionais e metabólicas para o bebê nos primeiros 6 meses de vida”.
E os benefícios dessa prática se estendem para as mulheres. A amamentação auxilia no retorno do peso anterior à gestação e reduz a hemorragia após o parto (é comum ter um sangramento, mas algumas mulheres têm em excesso), além de ser fator de proteção contra o câncer de mama, endométrio e ovário. “Protege também contra doenças crônicas, como o diabetes mellitus tipo 2, hipercolesterolemia, hipertensão arterial, obesidade e infarto agudo do miocárdio. Além do que, é muito importante para fortalecer o vínculo afetivo da mãe com o recém-nascido”.
Mães que não produzem leite
Isabela afirma que a grande maioria das mulheres tem condições biológicas para produzir leite suficiente para atender à demanda de seu filho. “A ausência total é extremamente rara na espécie humana. Porém, ansiedade, dor, medo, insegurança e outros fatores psicológicos podem inibir a liberação da ocitocina (hormônio responsável pela expulsão do leite), prejudicando a saída do leite da mama. Há raras situações, como uso de alguns medicamentos e algumas doenças da mãe e do bebê, que contraindicam o aleitamento materno”.
6 meses de leite
De acordo com orientação da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Ministério da SBP, o ideal é amamentar exclusivamente no peito até os 6 meses. Após esse período, deve-se incluir a introdução gradual de outros alimentos saudáveis, mas mantendo ainda a amamentação até pelo menos os 2 anos.
E foi assim que a empresária Ariane Faria fez. Mãe há 7 meses, ela conta que a experiência de amamentar foi melhor do que imaginava. “No início, os medos e palpites atrapalham, pois falam que leite não é suficiente, fraco etc. No entanto, tive sorte de ter auxílio do pediatra que sempre esclareceu que não existe ‘leite fraco’. Ele é facilmente digerido, por isso o Gael mamava praticamente a cada 2h”.
Ariane reitera que a experiência é psicologicamente muito reconfortante. “A sensação de ser a fonte de alimento de um ser é maravilhosa. Além disso, Gael não teve nem resfriado durante 6 meses que ficou exclusivamente com leite materno. Pretendo amamentar até quando ele quiser e eu puder”.
Volta ao trabalho
Todas as mães têm o direito de amamentar seus filhos, seja no trabalho, em casa e até quando estão privadas de liberdade. O aleitamento materno é também um direito da criança. Segundo o artigo 9º do Estatuto da Criança e do Adolescente, é dever do governo, das instituições e dos empregadores garantir condições propícias ao aleitamento materno.
A pediatra diz que retornar ao trabalho após o nascimento de um bebê é um assunto delicado para as mulheres, mas é possível conciliar o trabalho com a amamentação e, para isso, as mulheres devem estar atentas aos seus direitos. “Algumas medidas facilitam a manutenção do aleitamento materno. Por exemplo, a ordenha do leite e o armazenamento de forma adequada para o consumo podem auxiliar nesse processo. O Ministério da Saúde recomenda iniciar o estoque 15 dias antes do retorno e o leite cru (não pasteurizado) pode ser conservado em geladeira por 12 horas e no freezer ou congelador por 15 dias”.
Isabela finaliza dizendo que a mulher deve aproveitar o período que estiver em casa para amamentar com frequência. “Outra dica importante é evitar o uso de mamadeiras, tentando oferecer o leite por copo ou colher, evitando assim a ‘confusão de bicos’ e o desmame precoce”.