Segundo levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), pelo menos, 10 pessoas são internadas por conta de aneurisma da aorta no país. Entre janeiro de 2012 e maio de 2022, quase 40 mil brasileiros foram submetidos a procedimentos para tratamento da doença. Desse montante, cerca de 13% tiveram desfecho fatal, resultando na morte de 5.297 pacientes.
Esses dados referem-se apenas aos serviços prestados pelos hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS), portanto, estima-se que o número de casos seja maior em virtude de atendimentos realizados por planos de saúde e de modo particular. O levantamento foi feito por meio das informações disponíveis na base de dados do Ministério da Saúde.
A pesquisa identificou também que o índice de internações por aneurisma da aorta registrado nos cinco primeiros meses de 2022 já supera o valor correspondente ao mesmo período durante os últimos 10 anos. Para se ter ideia, nos cinco primeiros meses de 2012, o Brasil totalizou 1.182 procedimentos hospitalares relacionados à doença. No mesmo período deste ano, o país já soma 2.011 internações, número 70% maior que o observado no início da série histórica.
Minas Gerais é o segundo lugar que mais realizou procedimentos voltados ao tratamento da doença, somando 4.755. O estado só perde para São Paulo, com 10.444 processos, o que representa 26% do total de todo o país.
O cirurgião cardiovascular, Cláudio Almeida, explica que o aneurisma é uma dilatação de um vaso que, no caso da aorta, maior artéria do corpo humano, responsável por levar sangue do coração para o corpo e irrigar todos os órgãos, ocorre quando ela se dilata. “Quando a pressão do sangue fica muito elevada e acaba a contração do coração, ela imprime uma tensão na parede da aorta repetidamente e, com o tempo, ela tem uma tendência a se dilatar”.
Almeida diz que o aneurisma da aorta atinge, principalmente, homens com mais de 65 anos e tabagistas, além de ser uma doença potencialmente grave, dependendo do diâmetro e da localização.
De acordo com ele, o maior risco é a ruptura, porque quando a aorta se dilata, a parede dela afina e a tensão aumenta. “É como se fosse um balão, quanto mais sopramos, menor a espessura da parede da bexiga e maior é a tensão que o ar faz. Chega um momento em que ele estoura. Da mesma forma, acontece com a aorta. Quando se rompe, no caso dos pacientes com aneurisma da aorta abdominal, um terço morre antes de conseguir chegar ao hospital. Dos que conseguem atendimento, um terço falece antes da cirurgia de urgência e um terço dos que operam, acabam vindo a óbito”, afirma.
Fatores de risco
O cirurgião cardiovascular pontua que o principal fator de risco associado à formação do aneurisma de aorta abdominal é o tabagismo. “Ele sozinho tem potencial de dobrar o risco de desenvolver a doença. No entanto, soma-se a isso o sedentarismo e a hipertensão”.
Para Almeida, o grande problema desta doença é que ela é assintomática. “Alguns sintomas podem aparecer de maneira brusca, como dor forte ou persistente no abdômen ou nas costas; náuseas e vômitos; frequência cardíaca acelerada ou a queda de pressão e choque hemorrágico, mas esses sinais surgem quando um aneurisma está prestes a romper ou já se rompeu”.
Ele conta que, geralmente, o aneurisma é descoberto por meio de ultrassom abdominal ou de um exame de rotina. “Outra forma comum de descobrir é mediante a uma investigação urológica ou fazendo o exame de coluna lombar, por meio de ressonâncias e tomografias”.
O especialista destaca ainda que essa patologia é capaz de causar o óbito ou levar a complicações, como a embolização distal, ou seja, trombos gerados dentro do aneurisma que podem se descolar e levar a obstruções arteriais em membros ou em órgãos. “E isso pode causar o infarto e até mesmo a perda desses órgãos ou de membros afetados”.
Tratamento
Almeida ressalta que o tratamento depende do estado da doença. “No início, se interrompe os fatores de risco para o crescimento, como o tabagismo, controle da pressão arterial e da frequência cardíaca de forma rigorosa. Agora, quando o aneurisma atinge um diâmetro significativo, em que o risco de ruptura torna-se elevado, é indicada a intervenção cirúrgica, que é feita de forma minimamente invasiva endovascular, onde implantamos uma endoprótese que direciona o sangue da aorta para os seus principais ramos, impedindo que o aneurisma receba a pressão do sangue e dessa forma se rompa”.
Ele ressalta também que outra maneira de tratar a patologia é por meio das cirurgias convencionais, principalmente em pacientes que não podem ser operados de forma endovascular. Contudo, segundo o cirurgião, essas são intervenções cada vez menos realizadas. “Nessa cirurgia nós substituímos o segmento da aorta aneurismática por uma prótese, impedindo a ruptura da mesma”.
Casos famosos
O cantor e compositor mineiro Vander Lee foi vítima desta doença em 2016. De acordo com a empresária da época, ele teve um quadro de dissecção aguda de aorta com ruptura da coronária direita, válvula aórtica e aorta ascendente. Vander Lee chegou a passar por uma cirurgia, mas não sobreviveu a uma parada cardíaca.
Outro exemplo é o diretor e ator Jorge Fernando, que faleceu em 2019. Segundo a nota do hospital em que ele estava internado, o artista morreu por conta de uma parada cardíaca que foi causada por uma dissecção da aorta. Almeida elucida que a possibilidade de ocorrer o rompimento da artéria, nesse caso, é grande e aumenta conforme o tamanho do aneurisma.