Uma pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em conjunto com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) apontou que, 41% dos brasileiros desenvolveram dores nas costas durante o isolamento social. Dentre os que já enfrentavam disfunções crônicas na região, 50% indicaram que o desconforto cresceu no período analisado.
O ortopedista e traumatologista Bruno Mendes explica que os problemas na coluna são uma das maiores causas de consulta. “No momento em que vivemos, o home office se tornou uma prática comum e, quando aliada ao sedentarismo, as queixas de dores tendem a aumentar, sendo mais frequentes na lombar e cervical”.
Isso acontece porque, durante o trabalho em casa, é comum passarmos muitas horas na mesma posição. “E, geralmente, essa postura não é adequada, como ficar no sofá, cama, mesa com altura ruim e em cadeiras que não são ergométricas. Já a falta de exercícios físicos enfraquece a musculatura que sustenta a coluna, forçando ainda mais essa região e causando desconforto”.
O especialista esclarece que quando a dor na coluna é originada pela má postura tende a ser mais muscular. “Ela fica localizada na região lombar ou cervical e não irradia para os membros superiores e nem inferiores. Além disso, ocorre aumento do desconforto quando exige uma força maior dos grupos musculares envolvidos, por exemplo, carregar peso, agachar, subir escadas, academia”.
Segundo Mendes, essa é uma dor que pode evoluir para algo mais grave. “Manter a musculatura fraca durante um longo período aliado a uma grande exigência muscular pode predispor a um desgaste ósseo e das vértebras, se nada for feito, começa a acometer o disco vertebral, que é a porção não óssea, o que pode evoluir para a hérnia de disco e com acometimento neurológico”, afirma.
É possível saber que a dor pode ter se tornado mais grave através de alguns sintomas. “São sensações mais intensas, com irradiação para os membros inferiores ou superiores, que já não costumam aliviar com analgésicos comuns e nem repouso. Os pacientes sempre se queixam de não conseguir encontrar uma posição em que fique confortável. Além disso, a pessoa pode perder a sensibilidade dos membros, da região genital, perda de força nos braços ou pernas e controle dos esfíncteres”.
Alguns desses sinais foram sentidos pela auxiliar administrativa Paloma Caldas. “Improvisei meu home office em uma mesa e cadeira que não são adequadas e é aquilo, a gente vai relaxando, fica torto, pega o notebook e vai pro sofá. Quando minha coluna começou a doer, imaginei que fosse isso, me automediquei, mas não trabalhei a postura. Depois de um tempo as dores foram ficando mais intensas. O que mais me assustou foi um dia em que eu fui levantar e a minha perna estava muito fraca. Essa sensação seguiu por um tempo e achei melhor procurar um ortopedista. Ele me receitou alguns medicamentos e, inclusive, me ensinou a melhorar a posição em frente ao computador”.
Mendes acrescenta que a pessoa deve priorizar uma cadeira confortável, em que a coluna permaneça ereta a maior parte do tempo. “A tela do computador deve estar na altura dos olhos, de forma que a cervical não fique na posição de flexão e nem em extensão por longos períodos, um apoio para os pés para que os membros inferiores fiquem relaxados e evitar ficar na mesma posição durante muito tempo. Alguns hábitos antes e depois da jornada de trabalho podem ajudar como fazer pausas a cada 30 minutos, repetindo alguns alongamentos tendo como foco reduzir a carga nas costas e ombros”.