A ruptura das barragens de Fundão, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, e da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, deixaram de legado mais do que perdas ambientais e de vidas humanas. Esses acidentes ainda refletem, de maneira significativa, na vida e na economia dos moradores das cidades afetadas e de outros locais que dependem da atividade mineradora. De acordo com uma pesquisa realizada pela Fecomércio MG, 80,6% dos comerciantes relatam um fluxo de clientes muito menor após a paralisação das empresas desse setor e 75,2% não concordam com esse hiato.
O estudo buscou captar a percepção de 480 empresários do comércio varejista em relação a atividade mineradora, seu papel no desenvolvimento local e sua influência para os estabelecimentos comerciais. A amostra contou com empresas das cidades de Brumadinho, Congonhas, Itabirito, Mariana, Nova Lima, Ouro Preto e Sarzedo, todas na região central do estado.
Além disso, 92,3% dos entrevistados apontam que o comércio local depende das atividades relacionadas à mineração, sendo que 40,79% acreditam que é totalmente dependente dos ganhos oriundos desse setor e os demais dizem que necessitam parcialmente. Aliás, 92% reiteram que a atividade contribuiu muito ou em parte para o desenvolvimento de seu município.
O economista-chefe da Fecomércio MG, Guilherme Almeida, afirma que as cidades mineiras não aproveitaram a valorização dos commodities minerais no cenário internacional. “A dependência das atividades exploratórias é algo histórico de Minas Gerais e uma prova disso é que esse setor também ajudou economicamente no crescimento do estado. Os municípios seguiram nessa linha, o que não é errado, mas falharam por não fomentarem outras atividades”.
De fato, a interrupção dos trabalhos de mineração tem causado transtorno ao comércio varejista nesses locais. Para 42,1%, o movimento de clientes diminui muito e 38,5% dizem que a procura pelas lojas caiu, mas de forma menos acentuada. Já o fluxo de turistas recuou 68,7% na percepção dos varejistas locais. “A dependência econômica é muito ruim para os municípios, pois isso gera uma insegurança por não haver um leque de opções de geração de renda. Ou seja, se aquele setor não vai bem, consequentemente, isso afetará negativamente os outros. E é exatamente isso que está acontecendo com a mineração”.
Alternativas
A pesquisa também perguntou aos empresários sobre alternativas em relação à mineração para os municípios. Para 41% dos entrevistados, essas cidades possuem outras vocações para geração de emprego e renda, com destaque para as atividades ligadas ao turismo cultural e ecológico. Além desse segmento, foi citado agricultura, comércio, educação, indústria e siderurgia.
Almeida afirma que esse é um momento de repensar o sistema produtivo como um todo. “Por mais que essas cidades possuam outras matrizes econômicas, a renda proveniente delas é, muitas vezes, volátil. É preciso encontrar novas alternativas para que a população não seja penalizada duas vezes: primeiro com a ruptura das barragens, depois com suas consequências, que vão desde a paralisação de serviços mineradores ao esvaziamento do turismo e comércio locais”, finaliza.