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Excesso de velocidade lidera as infrações nas rodovias federais

Duas em cada três multas foram por alta velocidade nas BRs / Foto: PRF

 

As infrações de trânsito nas rodovias federais registraram alta de 39% no primeiro trimestre de 2025. Segundo dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF), foram emitidos 2.578.333 autos de infração, contra 1.859.028 registrados em 2024. Em Minas Gerais, foram 299.106 infrações, um aumento de 79,8% em comparação com o mesmo período do ano passado.

De acordo com a PRF, o excesso de velocidade representou 66,9% (1.724.833) das autuações. Em seguida, aparecem condução de veículo sem licenciamento (65.856) e ultrapassagens em trechos de faixa contínua (55.230).

A presidente da Associação de Clínicas de Trânsito de Minas Gerais (Actrans), Adalgisa Lopes, avalia que o elevado número de infrações nos primeiros meses de 2025 é um indicativo de que os condutores estão vivendo em um ritmo acelerado. “Esse é um comportamento comum não só do brasileiro, mas de motoristas no mundo todo. No entanto, é importante ressaltar que a ação do condutor brasileiro é, muitas vezes, mais imprudente que o dos motoristas de países desenvolvidos”.

A psicóloga especialista em trânsito, Giovanna Varoni, aponta que a correria diária, com prazos apertados e excesso de compromissos, tem deixado o motorista mais estressado. “Isso interfere diretamente no comportamento ao volante, levando frequentemente a decisões impulsivas, falta de tolerância e maior propensão a infrações”.

O excesso de velocidade foi a quarta principal causa de acidentes nas rodovias, resultando em 99 mortes em 1.012 ocorrências. Para Adalgisa, a sensação de impunidade é um dos principais fatores para o mau comportamento no trânsito. “O Código de Trânsito Brasileiro é bem rígido, mas a fiscalização é falha e, quando o caso vai para a Justiça, quem tem melhores advogados se sai melhor do que quem não tem. Em alguns países, uma infração grave, como dirigir alcoolizado, pode levar à prisão. Precisamos reduzir essa impunidade no Brasil”.

“Os jovens, especialmente entre 18 e 27 anos, têm uma tendência maior ao comportamento de risco, o que se reflete até no valor mais alto dos seguros para essa faixa etária. Isso se deve tanto à impulsividade natural da idade quanto a traços de personalidade que identificamos nas avaliações psicológicas. Muitos buscam sensações prazerosas e estímulos constantes, o que os leva a atitudes perigosas no trânsito. Também observamos que os homens, em geral, assumem mais riscos do que as mulheres, que costumam ser mais prudentes. Essa diferença tem raízes culturais e precisa ser debatida. O trânsito é a principal causa de morte entre os jovens, e precisamos discutir isso com mais seriedade na sociedade, na imprensa, nas escolas e dentro das famílias”, acrescenta. A desatenção também é apontada como um fator significativo para os acidentes.

A psicóloga explica que a mente sobrecarregada, o estresse contínuo e o cansaço físico e emocional são inimigos da direção segura. “Muitos motoristas estão fisicamente presentes, mas mentalmente ausentes, o que compromete totalmente a atenção e a capacidade de reagir a imprevistos”.

Para a presidente da Actrans, uma maior periodicidade nas avaliações médicas e psicológicas dos condutores pode ajudar na redução dos acidentes. “Ao longo da vida, o motorista sofre perdas cognitivas e emocionais que afetam sua atenção e comportamento no trânsito. Estamos vendo um aumento de 39% nas infrações. As avaliações psicológicas analisam aspectos como atenção, memória e personalidade, fundamentais para entender a conduta ao volante. Já os exames médicos, que agora ocorrem a cada 10 anos para motoristas com mais de 55 anos, ignoram problemas de saúde que podem surgir nesse intervalo, como diabetes e doenças cardíacas. A saúde física e mental do condutor está comprometida, e reavaliar com mais frequência é essencial para prevenir acidentes”.

 

Maio Amarelo

Giovanna defende que ações educativas, como o Maio Amarelo, cujo tema deste ano é Mobilidade humana, responsabilidade humana são essenciais. “Elas provocam uma reflexão, lembrando que o trânsito é feito por pessoas e que cada escolha pode salvar ou colocar vidas em risco. Ao falar sobre respeito, empatia e responsabilidade, essas campanhas geram impacto e promovem uma mudança de mentalidade, não só ao volante, mas também na forma como lidamos com o ritmo da vida”.