
A doença celíaca afeta cerca de 1% dos brasileiros, o equivalente a pouco mais de 2 milhões de pessoas, segundo estimativas da Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (Fenacelbra). Trata-se de uma enfermidade autoimune desencadeada pela ingestão de glúten, proteína presente no trigo, cevada e centeio, que provoca uma reação inflamatória no intestino delgado, podendo comprometer a absorção de nutrientes e desencadear uma série de complicações de saúde.
Os sintomas da doença celíaca variam amplamente de pessoa para pessoa, o que dificulta o diagnóstico precoce. De acordo com a gastroenterologista Isabela Moreira, os sinais incluem diarreia crônica, perda de peso, distensão abdominal, anemia e fadiga. “Porém, muitos pacientes apresentam manifestações atípicas ou até mesmo silenciosas, como dores articulares, infertilidade, osteoporose precoce e alterações neurológicas”.
“Em crianças, o quadro pode se manifestar de forma mais aguda, sendo comum observar atraso no crescimento, irritabilidade e vômitos. Além disso, a doença pode ser confundida com outras condições, como síndrome do intestino irritável ou intolerância à lactose”, explica.
A suspeita clínica deve ser seguida por exames laboratoriais específicos, como a dosagem de anticorpos antitransglutaminase tecidual e anti-endomísio. “Se os resultados forem positivos, realiza-se uma endoscopia com biópsia do intestino delgado para confirmação. Importante destacar que o diagnóstico só é preciso se o paciente estiver consumindo glúten regularmente no momento dos testes. Muitas pessoas o eliminam por conta própria antes de procurar ajuda médica, o que pode mascarar os exames e dificultar o diagnóstico”, alerta Isabela.
Atualmente, o único tratamento eficaz para a doença celíaca é a exclusão total do glúten da dieta. “Mesmo traços da proteína, como os encontrados em utensílios contaminados, podem desencadear reações e causar danos intestinais. Não se trata de uma dieta da moda, mas de uma prescrição médica rigorosa”, enfatiza a nutricionista clínica Cristina Souza. Ela explica que a adesão estrita é fundamental para evitar complicações como osteoporose, infertilidade, problemas neurológicos e até linfoma intestinal, um tipo raro de câncer.
“A adaptação pode ser desafiadora no início, mas hoje o mercado oferece uma variedade crescente de produtos sem glúten. O rótulo precisa ser analisado com atenção. O ideal é procurar alimentos certificados e, sempre que possível, optar por produtos naturalmente livres de glúten, como arroz, milho, batata, frutas e legumes”, aconselha.
Segundo Cristina, por ser uma condição genética, a doença celíaca não pode ser prevenida. No entanto, pessoas com parentes de primeiro grau diagnosticados com a doença têm maior risco de desenvolvê-la e devem ser acompanhadas de perto. “Nestes casos, é recomendado realizar exames preventivos mesmo na ausência de sintomas”.
A gastroenterologista diz que além dos desafios físicos, o aspecto emocional também merece atenção. “Muitos pacientes relatam dificuldade de socialização e ansiedade em eventos sociais. O acompanhamento psicológico pode ser um grande aliado para ajudar o paciente a lidar com a nova rotina alimentar”.
“Associações de apoio a celíacos têm desempenhado um papel importante nesse processo. Grupos em redes sociais e eventos de conscientização ajudam a trocar experiências, divulgar informações corretas e pressionar por mais opções seguras nos cardápios de restaurantes e escolas”, conclui a médica.