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Espetáculo em BH retrata processo histórico da escravização no Brasil

Peça é baseada em três contos da autora Maria Célia Nunes / Foto: Gabriel Caram

 

Com apresentações gratuitas no mês de maio, o espetáculo teatral “Marcas do Tempo”, inspirado em três contos da autora e contadora de histórias Maria Célia Nunes e dirigido pelo ator e músico Alan Najara, vai ser apresentado em espaços públicos de Belo Horizonte. A turnê 2025 começou em abril, também sendo realizada em locais públicos.

A peça aborda o processo histórico de exclusão, extermínio, escravização e discriminação dos povos originários, africanos e afrodescendentes, cujas condições degradantes ainda persistem em nossa sociedade, marcada pela herança patriarcal. A narração dos contos “As Chamas e o Legado”, “O Menino e a Mulher” e “Amor Proibido”, historicamente contextualizados e referentes às três matrizes etnoculturais formadoras do povo brasileiro, é entremeada por cenas teatrais e produção musical.

“O espetáculo tem por objetivo cooperar com o fortalecimento da tradição da narração oral como veículo privilegiado de perpetuação da memória coletiva, abrindo caminho para que sejam abrangidas todas as possibilidades de expressão da palavra nas mais diversas manifestações da cultura popular e literária, que incluem contos, crônicas, anedotas, causos, cordéis, lendas, fábulas, poemas e canções”, pontua a autora Maria Célia Nunes.

Já o ator e músico Alan Najara explica que quando a Célia propôs as histórias, ele achou muito profundo e triste. “Porém, ela me convenceu que está na hora das pessoas entenderem a escravidão e precisamos saber a essência do que aconteceu por trás disso. Isso foi me envolvendo de um jeito que comecei a pensar como alinhavar essas histórias de dores pesadas que marcam a gente e por que contar esses contos? E juntos pensamos em canções e pastiche, que é quando juntamos um poema com outro e faz um emaranhado de ideias. Esses contos me encantaram pela possibilidade de provocar o público”.

“Queremos que o público leve para casa a vontade de mudar e a reflexão sobre o que ele, em particular, pode fazer. Às vezes, o que o outro pode fazer para mudar o presente não é o mesmo que eu posso fazer. Queremos que o público vá para casa com muita emoção, que ele durma e acorde pensando no que ele ouviu. O objetivo da arte é provocar o pensamento que gera a transformação”, acrescenta.

 

Os contos

O primeiro conto, intitulado “As Chamas e o Legado”, gira em torno da trajetória de vida de uma nativa, Inaiá, matriarca e ponto de intersecção de nove gerações de mulheres, após a invasão das terras de Pindorama pelos portugueses e início da dominação degradante das gentes, das terras, da destruição das matas e da exploração das riquezas.

Em “O Menino e a Mulher”, a narrativa se passa em tempos da escravatura no Brasil, mostrando um lado pouco explorado nas escolas, quando se trabalha o tema da escravidão: a captura de homens, mulheres e crianças na África, o tráfico intercontinental de seres humanos e o comércio de escravizados no Brasil. A história também traz, como tema, uma outra dimensão do amor, construída a partir da dor, do sofrimento e da solidão.

Já no terceiro conto, “Amor Proibido”, o enredo se passa no final do século 19. A história de um rumoroso escândalo de envolvimentos amorosos que se entrelaçam como uma teia urdida pelas mãos do destino. A trama se desenrola em um contexto social elitista branco, conservador, misógino e hipócrita, marcado por rígidos padrões éticos e morais de comportamento.

Os três contos narrados no espetáculo teatral já foram premiados. “O Menino e a Mulher” e “As Chamas e o Legado” foram classificados em primeiro lugar, na categoria Conto, no concurso do “Cabeça de Prata do Minas Tênis Clube”, respectivamente em 2016 e 2019. Já “Amor Proibido” recebeu o prêmio de terceiro lugar, na categoria Conto, no Prêmio Nacional de Literatura dos Clubes, em 2022. A previsão do projeto é beneficiar um público estimado em 600 pessoas de diversos segmentos sociais e regiões, e com idade acima de 14 anos.