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Hora de repensar a rota dos juros e ajustar o equilíbrio fiscal

A recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que elevou novamente a taxa básica de juros, a Selic, de 13,25% para 14,25% confirma um cenário desafiador para a economia. A quinta alta consecutiva atingiu o maior patamar desde agosto de 2016, no auge da crise do governo Dilma, quando também estava em 14,25%.

Na justificativa para o aumento da Selic, o Banco Central disse que “o cenário mais recente é marcado por projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista”. O Copom também citou o cenário externo, que “exige cautela de países emergentes”.

Reconhecemos a importância do controle da inflação, mas defendemos um equilíbrio entre essa meta e a necessidade de estimular o crescimento econômico. Estamos convivendo com taxas de juros elevadas há bons meses e essa estratégia do governo não está surtindo o efeito desejado, pois a inflação continua em alta. Sabemos que taxas altas de juros por um bom período podem prejudicar a recuperação econômica, limitar a expansão dos negócios e afetar a criação de empregos.

E um dos reflexos dos juros já pode ser sentido na projeção do PIB para este ano. Após um avanço de 3,4% em 2024, na comparação com 2023, as projeções indicam que o PIB para 2025 deverá crescer, mas a um ritmo menor. Entre as razões para a desaceleração do crescimento, destaca-se o ciclo atual de alta dos juros, motivado por uma inflação persistente, sobretudo no grupo de alimentos. E nesse sentido, quando sabemos que o maior impacto inflacionário é resultado da alta dos alimentos devido a fatores climáticos, o aumento da Selic tem pouco ou nenhuma eficiência.

A alta taxa de juros encarece o crédito tanto para os lojistas quanto para os consumidores. Para os empresários, isso significa maior dificuldade em realizar investimentos e expandir suas operações. Para os consumidores, o crédito mais caro reduz o poder de compra, impactando negativamente as vendas do varejo. Além disso, o endividamento das famílias aumenta, elevando a inadimplência e gerando um ciclo vicioso que prejudica toda a economia.

Atualmente, enfrentamos o antigo dilema entre a cura e o malefício. A taxa Selic deixou de ser uma solução há algum tempo e passou a ser mais danosa para a economia do país. Além do efeito dos juros, que ampliam o déficit nominal de maneira muito mais expressiva do que qualquer programa governamental de redistribuição de renda, há o fato de que a retração econômica causada pela Selic elevada diminui a receita do governo. Por fim, a perda de competitividade dos diversos setores, devido ao desestímulo aos investimentos em um cenário de juros altos, prejudica nossa inserção no mercado global e alimenta pressões inflacionárias futuras.

Defendemos a adoção de medidas que promovam o equilíbrio fiscal, com o governo gastando menos do que arrecada, para controlar a inflação sem prejudicar o crescimento. É mais que urgente repensar a rota dos juros e ajustar o equilíbrio fiscal, que também pressionam a inflação.