Como diria o velho político mineiro, o espirituoso Zezinho Bonifácio, o circo está armado no cenário da política nacional. Em quatro décadas, nunca se viu momento de tamanha escalada de tensão como agora, após a Polícia Federal difundir uma lista no qual 37 pessoas foram indiciadas por crimes diversos, incluindo ex-ministros, generais e outros militares, trazendo preocupação para quem cuida dos ideais democráticos do país.
É primordial que a lei seja cumprida, mas que se apresentem provas contra os indiciados, para evitar qualquer possibilidade de manipulação de informações. O assunto em pauta é sobre a possível articulação de uma tentativa de golpe de Estado, cuja trama foi arquitetada logo após a eleição do atual presidente Lula (PT), em 2022.
O grupo ligado ao então presidente Jair Bolsonaro (PL), não concordando com o resultado das urnas, teria incentivado manifestações para eliminar os novos dirigentes eleitos, inclusive com possibilidade de execução física. Toda essa orientação antidemocrática culminou com os atos de vandalismo do dia 8 de janeiro de 2023, ou seja, oito dias após a posse de Lula e seu vice Geraldo Alckmin. Desde a última eleição presidencial, a polarização política entre esquerda e direita tem aumentado no Brasil.
Com o indiciamento de 37 personalidades como articuladores de um movimento golpista para usurpar do poder central, o ideal é que o assunto seja logo esclarecido. Está em mãos do procurador-geral de Justiça, Paulo Gonet, a formalização das denúncias. Tomara que a autoridade não venha postergar a decisão. Outrossim, espera-se a constatação de algo sério no conteúdo do documento apresentado, especialmente depois de dois anos de investigações, mediante delação premiada e quebra de sigilo telefônico e telemático.
No rastro deste embate, propala-se um cenário atípico, onde ninguém sabe qual o lugar na história a ser dedicado ao ex-presidente Jair Bolsonaro: estadista ou golpista? Ao seu lado estão no mesmo patamar de suspeição várias personalidades até então avaliadas como sérias, como o general Braga Netto, o ex-ministro Anderson Torres, o deputado federal Alexandre Ramagem, além de autoridades civis, mas especialmente militares, perpassando por generais, tenentes, majores e outros membros das Forças Armadas. Que tudo isso seja esclarecido.