De acordo com a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, representando em média 38 pessoas tirando a própria vida por dia. Além disso, números do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mostram que a taxa de suicídio entre jovens cresceu 6% ao ano no país entre 2011 a 2022, enquanto as taxas de notificações por autolesões na faixa etária de 10 a 24 anos de idade evoluíram 29% ao ano no mesmo período.
Para a psicóloga Lara Fagundes, a pandemia de COVID-19 exacerbou problemas de saúde mental, o que pode ter contribuído para um aumento nas taxas de suicídio. “A solidão, o estresse financeiro e o trauma psicológico deixaram marcas profundas, principalmente entre os jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade social. No Brasil, o estigma em torno do suicídio ainda é um obstáculo significativo. A vergonha e o medo de julgamento fazem com que muitas pessoas evitem buscar ajuda ou compartilhar suas dificuldades. Além disso, a falta de recursos adequados e de profissionais capacitados em algumas regiões do país limita o acesso ao tratamento”.
A depressão é uma das condições de saúde mental que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. A estudante Letícia Melo conta que foi diagnosticada com a doença aos 16 anos. “Não sentia vontade de levantar da cama, nem comer, nem tomar banho ou escovar os dentes. Atividades que antes eram agradáveis também não despertavam meu interesse mais. Cheguei a ficar internada por cerca de três semanas, e o sentimento de culpa de fazer seus familiares e amigos passar por aquilo só piorava a situação. Comecei a melhorar após iniciar a terapia e fazer o uso de medicamentos controlados”.
Lara explica que a depressão é uma condição multifacetada. “Pode estar relacionada a fatores internos, que dizem respeito ao próprio indivíduo (fatores fisiológicos, como desequilíbrios químicos no cérebro, particularmente envolvendo neurotransmissores) ou externos, que fogem do controle da pessoa na maior parte dos casos (experiências passadas, como traumas, abusos ou perdas)”.
“Principalmente para os jovens, a pressão para ter um bom desempenho acadêmico e alcançar sucesso profissional pode ser esmagadora para muitos, a comparação social, a sensação de inadequação e o bullying on-line, questões familiares, como conflitos, abuso ou negligência e até mesmo eventos sociais e políticos, como crises econômicas, violência e desigualdade, podem impactar a saúde mental”, ressalta Lara.
Setembro Amarelo
O dia 10 deste mês é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. Em 2024, o lema é “Se precisar, peça ajuda!”. “A campanha Setembro Amarelo ajuda a desmistificar o tema, promovendo uma abordagem mais aberta e honesta sobre a saúde mental e o suicídio. Isso é crucial para encorajar as pessoas a falar sobre seus sentimentos e buscar suporte sem medo de julgamento”, diz a psicóloga.
A campanha fornece informações valiosas sobre como identificar esses sinais e onde buscar ajuda. “Além das ações imediatas, a campanha contribui para uma mudança cultural ampla ao promover uma visão mais compreensiva e humana da saúde mental. Isso pode levar a políticas públicas eficazes e uma mudança geral na forma como a sociedade percebe e trata questões de saúde mental”, conclui.