Conforme dados do Observatório da Atenção Primária à Saúde da Umane, com base no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, houve um aumento de 130% no número de mulheres que morreram em decorrência do câncer de mama nos últimos 22 anos. O índice saiu de 8.311, em 2000, para 19.103, em 2022.
O estudo ainda mostrou que a taxa de mortalidade pela doença foi de 17,5 a cada 100 mil habitantes em 2022, com avanço de 86,2% em relação ao ano 2000, que registrou 9,4. O Observatório atentou que o crescimento vai contra a meta estabelecida nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, que é de reduzir em 10% a mortalidade prematura (em mulheres com idades entre 30 a 69 anos) por câncer de mama.
Em Minas Gerais, a taxa de mortalidade foi de 16,6 por 100 mil pessoas do sexo feminino em 2022, menor que a média nacional. Em Belo Horizonte, 19.103 mulheres morreram em decorrência do câncer de mama, a taxa foi de 23,4. Já em 2000, na capital mineira, vieram a óbito 8.311 pacientes.
A mastologista da Unimed BH e diretora da Sociedade Brasileira de Mastologia, Annamaria Massahud, explica que a mortalidade pode estar ligada ao aumento de casos de câncer de mama. “Hoje em dia, as pessoas são mais sedentárias. No Brasil, temos uma maior proporção de indivíduos obesos, o que também pode ocasionar a doença. Da mesma forma, a bebida alcoólica; a questão da alimentação, que muitas vezes não é saudável; e até mesmo o tabagismo. Alguns fatores externos e comportamentais podem influenciar no crescimento do índice”.
“Estudos mostram que mais de 60% dos diagnósticos da doença no Brasil são tardios. Quando a patologia não é descoberta na fase inicial, a chance de cura é menor. Também há situações em que há demora para começar o tratamento. Em alguns casos, mulheres que dependem exclusivamente do sistema público não têm acesso a drogas que melhorem a sobrevida”, complementa.
Annamaria pontua um conjunto de ações que deveriam ser realizadas pelo setor público para frear esse aumento da mortalidade. “Elas vão desde a informação da população sobre a doença, as vantagens de diagnosticar precocemente, os acessos que elas podem ter e como chegar em cada nível de atenção, até a uma orientação para os profissionais de saúde e os agentes comunitários”.
“Na atenção primária de saúde, a informação tem que ser muito bem repassada para que aquela paciente consiga chegar rapidamente na atenção secundária ou até mesmo ir direto para a terciária. É necessário que as linhas de cuidado funcionem para que a mulher tenha acesso a biópsia, cirurgia, quimioterapia e radioterapia. Tudo deve estar interligado e capacitado para fazer o atendimento de forma eficiente e reduzir esses índices”, diz Annamaria.
Estatísticas
A pesquisa aponta que a mortalidade tem aumentado em todas as faixas etárias entre 35 ou mais. Foram 72% entre 35 e 44 anos, 81% entre 45 e 54 anos, 140% entre 55 e 64 anos e 179% entre mulheres acima de 65 anos. O maior número de mortes, em 2022, está entre os indivíduos menos escolarizados, com 0 a 7 anos de estudo, o perfil registrou 8.311 óbitos, 189% a mais do que as pessoas do sexo feminino mais escolarizadas, com 12 ou mais anos de estudo (2.879).
A mastologista finaliza esclarecendo que nessa questão, da escolaridade, existem alguns aspectos. “Um é que as mulheres menos escolarizadas também podem ter menos acesso a informação sobre o diagnóstico precoce. Elas podem ter ainda aquele estigma do câncer de mama e da mutilação, além de ter dificuldades no acesso ao tratamento”.