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O despertar do dragão

O resultado positivo do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) provocou grandes comemorações dentro do governo. O país teve um avanço de 2,9% acima de todas as previsões do mercado em 2023. Voltou a ser uma das dez maiores economias do mundo, ultrapassando o Canadá e a Rússia, ficando em 9º lugar no ranking, com um PIB de R$ 2,17 trilhões. Mesmo sem ter estes dados na cabeça, a sociedade parece refletir esse otimismo, mas com uma preocupação: o risco do aumento da inflação. Esta carestia já é algo que os brasileiros começam a sentir no bolso. A expectativa do cidadão tende a ser positiva, achando e querendo que vai melhorar a sua vida e a de sua família. Por isso é que o risco, no entanto, para o otimismo registrado é a inflação. Todos estão sentindo os preços dos produtos que consomem subirem. E essa percepção é bem alta, segundo as pesquisas.

Acrescenta-se ao momento o fato de que, neste início de ano, há ainda o impacto das contas e custos. Mas o pique é mesmo nos alimentos e outros produtos domésticos. Tudo corrobora para que a maioria dos brasileiros acreditem que haverá aumento da inflação, dos impostos e dos juros, mesmo com o Banco Central tendo feito pequenas reduções na taxa Selic nos últimos meses. Após dois meses de queda, o número de inadimplentes aumentou e chegou a 72,07 milhões, segundo a Serasa, sendo o desemprego e a redução na renda os dois principais motivos.

Com 38 ministérios, o presidente defende que ainda há poucos ministros para a quantidade de assuntos do país. Pelo visto, já é uma preparação para uma nova reforma ministerial no transcurso do ano. Segundo ele, o povo tem que parar de acreditar na imprensa quando fala que existem muitos ministérios. São 15 a mais do que tinha no último governo. Só para termos uma ideia, a vizinha Argentina, que trocou o chefe da nação recentemente, tinha 38 ministérios. Agora, com a posse de Javier Milei, reduziu para apenas nove. E temos que ouvir o nosso atual presidente falar que temos pouco e precisaria de mais.

Falando ainda dos hermanos, o seu governo anuncia venda de carros e aviões da frota presidencial, incluindo a aeronave usada pela ex-vice-presidente Cristina Kirchner. A medida visa reduzir gastos públicos. Já imaginou abrir o dia lendo ou ouvindo esta notícia da mídia brasileira? Acabar com os carros oficiais e outros penduricalhos, como o aeroporto particular em Brasília, exclusivo para o uso das “autoridades”, para embarcarem sem serem incomodados pelo público em geral. Quem dera este sonho se tornasse realidade. Pelo visto, aqueles antigos erros que nos levaram a vários desastres econômicos voltam a ser protagonistas na gestão atual. Enquanto lá embaixo eles estão empenhados em dar um fim aos privilégios das mamatas, da vida de marajá com dinheiro público (nosso dinheiro), enxugamento do Estado, dando uma reviravolta completa nas decisões prejudiciais tomadas anteriormente, nós vemos a insistência em repetir um roteiro que já deu errado inúmeras vezes. O mercado está alertando para o elevado endividamento sem uma política fiscal consistente e critica a indexação no orçamento.

Inflação é sempre um tormento para nós, quando vemos o dragão despertando de sua hibernação. Quando menos se espera, essa velha senhora dá as caras, sobretudo em governos lenientes e intervencionistas. Portanto, é fundamental que os agentes políticos, em especial o governo, não recorram a artificialidades para tentar maquiar o custo de vida, pois a conta sempre aparece e ainda mais cara. Até os analistas da GloboNews estão caindo na real. Outro dia, o Gabeira comentou, ao vivo, que na ida semanal a uma feirinha gastava R$ 90. Agora, gasta R$ 140 e a cada semana o valor aumenta mais. O seu colega de bancada corroborou dizendo do preço da banana e da manga, além de outros produtos.

A sociedade brasileira já deu inúmeras demonstrações de que não abre mão do controle da inflação, perante o inferno que foram os anos de 1980 até a primeira metade da década de 1990. O custo de vida chegou a passar de 80% ao mês, algo impensável depois que se saboreou, por quase 30 anos, a estabilidade trazida pelo Plano Real. O descontrole dos preços tem força suficiente para derrubar governos, sobretudo, os preços dos alimentos, que andam mais assanhados do que deviam. Então, todo cuidado é pouco. É fundamental para manter o custo de vida sob controle contar com uma boa gestão das contas públicas.

O governo precisa cumprir a promessa de não gastar mais do que arrecada, pois os ventos ainda estão fracos. Nem o governo nem o Congresso devem desafinar o coro para que a população seja a grande beneficiada em um ambiente econômico mais favorável. Manter os dois pés bem fincados no chão, além da prudência, significa responsabilidade. O Banco Central segue à risca esta cartilha. E não por excesso de conservadorismo, porque ninguém aguenta mais o Brasil convivendo, a todo momento, com solavancos e incertezas. O país precisa de uma visão econômica sólida com respeito ao dinheiro público, alinhada com os interesses da nação e capaz de garantir um futuro próspero para todos os seus cidadãos. Os que prezam o bom senso agradecem.