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Jogos eletrônicos movimentam bilhões

Fazer futebol é caro, os diretores precisam de muitos recursos para montarem bons elencos, comissões técnicas e excelente estrutura de treinamento. Os clubes de futebol utilizam suas camisas para obterem recursos com patrocínios. Vários deles conseguem milhões de reais “vendendo” os espaços nas camisas, calções e meias para empresas de diversos segmentos.

Nos últimos anos, a grande maioria dos clubes tem arrecadado milhões com a publicidade de empresas de jogos eletrônicos esportivos estampada na frente ou nas costas das camisas. Isso demonstra que as empresas estão ganhando muito dinheiro com o público que joga e aposta em diversas possibilidades de “ganhar o din din” tão sonhado. A marca na camisa dos clubes de futebol é mostrada para o mundo através de transmissões de jogos pela TV, internet, redes sociais, jornais e outras modalidades de divulgação das equipes esportivas.

O Brasil tem cerca de 208 milhões de habitantes nos mais de 5.570 municípios, nos 26 Estados e Distrito Federal, e segundo dados do Datafolha, 15% da população brasileira diz apostar ou já ter apostado de forma on-line. O fenômeno acontece em todo país, tendo mais o público masculino como grande apostador, com média de idade entre 16 e 24 anos, segundo levantamento. Pesquisadores, médicos, educadores e até integrantes de grupos de apoio a viciados em jogos relatam uma propagação entre jovens e até adolescentes, com recorrência de casos problemáticos. Isso ocorre mesmo com a proibição para menores de 18 anos.

O gasto médio mensal entre o total de pessoas que apostam é de R$ 263 – equivalente a 20% do salário mínimo de 2023. Três em cada dez apostadores gastam mais de R$ 100 por mês, conforme o Datafolha. E os valores que giram no mercado de apostas são obscuros e podem ser ainda maiores. Sem regulamentação, sites oferecem jogos não relacionados a esportes, no estilo cassino. Existem registros de situações graves no mercado e alguns deles estão sob investigação, inclusive por não pagar premiações.

Pelas pesquisas, os gastos de brasileiros com jogos e apostas on-line, ou seja, as bets, atingiram mais de 11 bilhões de dólares entre janeiro e novembro do ano passado, o equivalente a R$ 54 bilhões. O valor aproximado corresponde a remessas feitas para empresas do setor que atuam no exterior, segundo estatísticas mais recentes divulgadas pelo Banco Central.

O movimento é muito grande e do total gasto por brasileiros com sites de apostas no exterior, cerca de 9 bilhões de dólares, o que corresponde a R$ 44 bilhões, são recursos transferidos para formar o montante a ser rateado entre os vencedores, ou seja, o valor apostado pelos jogadores. Outros 2,2 bilhões de dólares, aproximadamente R$ 10,7 bilhões, referem- -se à taxa de serviço retida pelos sites que operam as apostas.

Desde 2018, a oferta de sites de apostas esportivas é liberada no Brasil. A partir disso, propagandas do setor passaram a dominar a grade da TV aberta, sobretudo em jogos de futebol, internet e outras redes sociais, que têm anúncios de jogos de apostas, viralizados pela atuação de influenciadores famosos (ex-jogadores de futebol e até técnicos).

Cerca de 7,1 bilhões de dólares voltaram ao Brasil entre janeiro e novembro do ano passado, segundo dados mais recentes do Banco Central. O valor equivalente a R$ 34,5 bilhões, refere-se a prêmios recebidos pelos apostadores que residem em território nacional. O responsável por controlar o movimento de recursos enviados para o exterior e retornados ao Brasil para pagamentos dos prêmios é o Banco Central.

Os dados da autoridade monetária sugerem que houve um aumento expressivo no volume de dólares para atividades, como jogos e apostas on-line no exterior. Mostram ainda que, implicitamente, as despesas não relacionadas ao setor (voltadas a outras operações, como serviços culturais, pessoais e recreativos) mantiveram-se no mesmo nível, com crescimento nominal zero.

O governo federal fez um projeto de lei para definir taxação e funcionamento dessas empresas, que devem se credenciar para atuar no Brasil. Em um chamamento prévio, aberto ainda antes da aprovação da lei, o Ministério da Fazenda recebeu 134 manifestações de empresas interessadas em atuar no mercado de apostas brasileiro. A regulamentação total deve ser finalizada ainda no primeiro semestre. Durante esse período, as empresas com sede fora do país continuam a oferecer apostas on-line no Brasil.

A nova legislação prevê uma alíquota de 12% sobre a arrecadação das casas de apostas (descontado o pagamento dos prêmios). Já os apostadores deverão pagar 15% do valor obtido com a premiação. Estes recursos dos impostos serão destinados para vários setores do governo federal, como o turismo, esporte, educação e segurança pública. Ao terminar nossa coluna, onde pesquisamos muito para escrever, não aposto on-line.