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A midiatização e suas lógicas: além da influência midiática

A sociedade contemporânea vive um fenômeno singular: a midiatização, um processo que transcende a mera influência da mídia para se entrelaçar em diversos aspectos sociais. Buscamos desvendar as nuances desse fenômeno, explorando as implicações de uma cultura cada vez mais imersa em lógicas midiáticas.

Desde a emergência da comunicação como campo de estudo, há mais de 80 anos, acumulamos um vasto conhecimento sobre os meios de comunicação. Particularmente, as lógicas midiáticas – regras e padrões que guiam a ação da mídia – têm sido um foco central. Compreender essas lógicas nos permite explicar fenômenos sociais e prever desenvolvimentos futuros, aspectos essenciais do conhecimento científico.

Ao estudar a midiatização, percebemos que este processo, embora relacionado, difere dos característicos da sociedade dos meios. A midiatização não se resume à penetração das lógicas midiáticas nos processos sociais. Ela engloba uma gama mais ampla de práticas e padrões, muitos dos quais emergem de maneira experimental nas interações sociais.

Dentre os contribuintes para este debate, Stig Hjarvard destaca a intensiva midiatização da cultura e da sociedade. Segundo ele, a influência midiática permeia quase todas as instituições sociais e culturais. Hjarvard sugere que as lógicas da mídia influenciam outras instituições e a sociedade em geral, mas reconhece a complexidade dessa interação. As lógicas midiáticas encontram resistência e são transformadas por outras lógicas institucionais e sociais.

Ao observar o fenômeno da midiatização, emergem dois âmbitos básicos: os processos empresariais e profissionais que conduzem as atividades da indústria cultural, e os processos que derivam da materialidade das tecnologias midiáticas. No entanto, estes não esgotam a complexidade das interações na midiatização. Novos meios e dispositivos técnicos trazem consigo procedimentos inovadores, desafiando e expandindo as lógicas estabelecidas.

Neste contexto, a midiatização representa uma transformação mais abrangente e dinâmica do que a mera adoção de lógicas midiáticas pré-existentes. Ela implica em uma interação ativa e mutável entre diferentes campos sociais, onde as lógicas midiáticas são tanto influenciadoras quanto influenciadas. Assim, a midiatização não se limita à imposição unidirecional das lógicas da mídia, mas envolve uma interação complexa e bidirecional entre diversos atores sociais e institucionais.

Ao investigar a midiatização, é crucial considerar essa dinâmica de interação e transformação. Isso requer uma atenção especial às experimentações sociais que desafiam, redirecionam ou reforçam as lógicas estabelecidas. O verdadeiro desafio é entender como a midiatização redefine as relações sociais e institucionais, dando origem a novas formas de interação e comunicação.

Em suma, a midiatização é um processo complexo e multifacetado, onde as lógicas da mídia interagem com uma variedade de outras lógicas sociais e institucionais. Este fenômeno representa uma transformação profunda na forma como as sociedades se comunicam e interagem, ultrapassando a compreensão tradicional dos meios de comunicação e suas influências.