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60% dos brasileiros possuem algum grau de somatização

Foto: Freepik.com

Segundo pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), realizada em 15 países, incluindo o Brasil, uma média de 50% das pessoas que procuram atendimento médico são submetidas a exames clínicos e de imagem, mas não apresentam uma doença física constatável, reconhecível e catalogada pela Classificação Internacional de Doenças (CID).

Ainda de acordo com o estudo, 20% dos cidadãos atendidos em serviços de atenção primária sofrem de algum grau de somatização. Ou seja, tendem a manifestar aflições, traumas ou conflitos psíquicos por meio de sintomas ou doenças corporais. No Brasil, a média de pessoas que sofrem desse transtorno chega a 60%.

O psiquiatra da Unimed – BH, Alexandre de Araújo Pereira, explica que o termo somatização refere-se a queixas somáticas. “São pacientes que vão a consulta médica e apresentam reclamações com sintomas físicos, mas quando fazemos uma avaliação, não é identificado nenhuma patologia”.

“Isso é o que a gente chama, de maneira geral, de somatização, o paciente tem sintomas somáticos, ou seja, físicos, e reconhece essas manifestações como problemas corporais, porém, na avaliação médica não identificamos nenhuma doença clínica, não conseguimos verificar um adoecimento físico”.

Conforme as diretrizes da CID, para ser considerado somatizador, o paciente tem que apresentar mais de três sintomas, de sistemas orgânicos diferentes, por mais de dois anos: dolorosos, que é a dor de cabeça, nas costas ou articular; gastrointestinais que apresenta náusea, diarreia ou vômito; cardiorrespiratórios, que é a falta de ar, palpitação ou aperto no peito; neurológicos, como lapsos de memória, visão embaçada/turva ou dificuldade de raciocínio; e sexuais, que é a baixa libido, dores na relação sexual ou alterações no ciclo menstrual.

O paciente

O psiquiatra relata que a pessoa que tem esse transtorno chama atenção pela urgência com que pede atendimento de saúde. “É um paciente que costuma ir muito a médicos, que solicita e agenda consultas, e que geralmente é além do que é considerado razoável. Ele é excessivamente preocupado com alterações no corpo, e tem uma inquietação de que aquela alteração pode ser uma patologia grave. É o que caracteriza, por exemplo, a hipocondria. Essa enfermidade é um tipo de somatização, em que a pessoa tem uma convicção que tem uma doença grave, por conta de alguma autopercepção corporal alterada”.

Pereira destaca também que esses pacientes não são fáceis de atender. “Eles geralmente criam dificuldades, porque têm a percepção de estarem doentes e sentindo algum problema de saúde importante. Mas, isso é uma forma de expressar algum tipo de conflito, situação de estresse ou questão emocional que a pessoa não consegue subjetivar. Então, esse tipo de desconforto, que não se manifesta do ponto de vista verbal ou psíquico, acaba vindo a partir de uma queixa somática, um sintoma físico”.

Diagnóstico

Na avaliação do psiquiatra, é preciso ficar atento a algumas características ao fazer o diagnóstico de transtorno de somatização. “Deve excluir algum problema orgânico, afastar qualquer doença clínica ou neurológica. Fazer um bom exame físico e complementares, além de colher o histórico do paciente. Essas são algumas ações importantes para descartar qualquer problema físico e orgânico”.

Sobre o tratamento, Pereira afirma que não existe uma medicação específica para tratar a somatização. “A postura médica de acolhimento, de escuta e de tentar fazer com que o paciente compreenda que a sua melhora ou piora tem a ver com aspectos vivenciais, é o principal foco do tratamento”.

“Isso é realizado com encontros psicoterápicos breves e estruturados, sempre evitando solicitar exames desnecessários. Às vezes, os pacientes envolvem quadros de ansiedade ou depressivos e, nesses casos, pode ser receitada uma medicação para ajudar a lidar com os sintomas”, finaliza.