O Carnaval está aí! Há muito tempo, diria que o Carnaval está se aproximando, mas agora é diferente. A festa já chegou e as ruas já sentem o clima de algazarra e folia. Antes, como no jargão usado por escolas de samba, pedia licença e anunciava a passagem. Agora é sem licença mesmo e só não vai atrás quem já morreu ou está quase. Nos anos 1960, o grande destaque do Carnaval em Belo Horizonte era a Batalha Real, promovida pelos Diários Associados.
Nos anos 1970, o evento se resumia aos desfiles na Avenida Afonso Pena de blocos e escolas de samba, além dos grandes bailes nos diversos clubes da cidade. Existiam mais de 70 blocos caricatos em Belo Horizonte e as duas maiores escolas de samba, que ainda estão em atividade, “Canto da Alvorada” e “Cidade Jardim”, chegaram a ter mais de 2.500 componentes cada.
Já fui da folia, hoje estou um pouco distanciado. Nascido e criado em Santa Tereza, um dos pontos mais altos do Carnaval de Belo Horizonte, vivi intensamente a era dos blocos caricatos. Uma comunidade que já tinha vários representantes: Diplomatas do Samba, Satã e Seus Asseclas, Os Tártaros, Galãs do Ritmo e Galãs Mirim. Tudo isso sem contar o impagável “Eu não rapo nada”, criado nos fundos do centenário Bar do Orlando pelo grande Zé Inácio. Participei de alguns e fundei “Os Inocentes”, campeão de cinco carnavais, razão das cinco estrelas que cobrem o seu escudo, hoje em um arremedo de agremiação que insiste em sobreviver.
Também participei intensamente da “Banda Mole”, com meu saudoso amigo Son Salvador e da Banda Santa, um dos maiores movimentos do Carnaval de Santa Tereza, que sucumbiu à época, em razão de alguns moradores que não aceitavam o comportamento de alguns foliões que, segundo eles, não respeitavam o patrimônio público e nem o particular.
Reclamavam do barulho, da sujeira deixada e consideravam tudo uma baderna. Sabíamos que era assim, mas os reclamantes não tinham paciência para aguentar isso em apenas um dia do ano. Os desfiles das bandas eram no sábado anterior à semana do Carnaval. Na Banda Santa, como todos os organizadores eram moradores do bairro e eu um dos diretores, recebíamos sempre as críticas na cara. Assim, o presidente eterno da banda, Antônio Loureiro, o Tuneca, resolveu acabar com a festa.
O tempo mudou e hoje os blocos são outros. A folia que voltou com força total é outra. Começou de forma espontânea, mas hoje é profissional. Blocos ainda surgem de todos os lados e movimentam o comércio e o turismo. Belo Horizonte recebe a cada ano um público sempre recorde, não nos moldes da propaganda nas mídias que prevê cerca de 5 milhões de turistas para 2024, porque isso somado aos outros milhões de foliões de BH seria o caos. Mas, com certeza, vem muita gente e a rede hoteleira agradece.
Quem não gosta da festa carnavalesca ou já não tem mais tanta energia para tal, pode ficar em casa em um Carnaval mais intimista, ou viajar para outras paradas. Lembrando, agora não são apenas três dias de folia e nem tudo acaba na quarta-feira, como a letra daquela marchinha. Se prepare, solte sua fera e seja feliz, mas respeite aquele que não gosta. E tem mais uma dica, “não é sempre não”. Como disse antes, já fui de folia. Por isso, parodiando a marchinha dos velhos carnavais: “Vou passar o Carnaval em Portugal, para fugir da capital”.