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Audiência pública discute má atuação da Copasa durante as ondas de calor

Foto: Henrique Chendes/ALMG

Com previsão de uma nova onda de calor pela frente, o diretor-presidente da Copasa, Guilherme Faria, garantiu que a concessionária está tomando providências de curto e médio prazo para evitar que se repitam episódios de desabastecimento de água por vários dias, como os que ocorreram em novembro, principalmente na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH).

Durante a audiência pública organizada pela Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), solicitada pelo presidente da comissão, deputado Adriano Alvarenga (PP), o diretor-presidente da Copasa afirmou que a empresa está reativando fontes de abastecimento que estavam inoperantes e estão programando investimentos para aumento da reserva de abastecimento da região metropolitana em 7.425 metros cúbicos.

De acordo com Faria, o consumo de água na RMBH, em novembro deste ano, durante a mais intensa onda de calor dos últimos anos, chegou a 18.531 metros cúbicos por segundo, extrapolando a capacidade de abastecimento do sistema. Essa situação levou a empresa a transferir a água do sistema Paraopeba para o sistema Velhas, provocando desabastecimento em diversos pontos, principalmente nos municípios de Ribeirão das Neves, Pedro Leopoldo e Betim.

Porém, o argumento do evento climático não previsto, não convenceu diversos deputados, prefeitos e vereadores que participaram da audiência e apontaram casos anteriores e repetidos de desabastecimento e de má qualidade da água fornecida em várias localidades do Estado. “A gente entende que houve uma onda de calor, mas o problema é recorrente e acontece sempre nos mesmos bairros, nos mesmos locais”, afirmou a deputada Nayara Rocha (PP).

A falta de investimentos da Copasa em municípios do interior também foi outra queixa recorrente. Sobre essa questão, Guilherme Faria afirmou que a Copasa investiu R$ 3,3 bilhões entre 2019 e 2022. Para o período de 2023 a 2026, a programação é de R$ 6,5 bilhões. Em 2023, segundo ele, há uma expectativa de lucro de R$ 1,3 bilhão e investimento estimado de R$ 1,5 bilhão, ou seja, superior ao lucro.

O deputado Ricardo Campos (PT), no entanto, afirmou que o sindicato dos trabalhadores da Copasa informou que a empresa tem contabilizado gastos em manutenção como investimentos, o que inflaria artificialmente estes valores.

Um motivo de divergência entre os parlamentares que acompanharam a audiência pública é a proposta do governador Romeu Zema (Novo) de privatizar a Copasa. A ideia foi defendida pelo deputado Eduardo Azevedo (PL) como uma forma de ampliar a capacidade de investimento da empresa. Já a deputada Bella Gonçalves (Psol) usou um exemplo próximo para criticar a proposta de privatização. No município de Ouro Preto, o serviço de abastecimento foi assumido pela empresa Saneouro. O resultado, segundo Bella Gonçalves, foi a piora do serviço e um aumento de até 10 vezes na tarifa.

Em entrevista exclusiva ao Edição do Brasil, o vice-presidente da Comissão de Defesa do Consumidor da OAB/MG, Rafael Svizzero, que estava presente na audiência, disse que Minas Gerais possui dimensões geográficas continentais e longe dos grandes centros há um sucateamento do aparelhamento. “Há falta de empatia por parte da empresa no que se diz respeito à cobrança exagerada. Penso que os números da Copasa apresentados e ilustrados nesta audiência pública demonstram que não faltam recursos ou investimentos, mas boa vontade de melhor atender a população”.

“Quanto à privatização, acredito que se mantiverem a postura atual, a população vai permanecer nesse limbo onde a má prestação de serviço impera, importando apenas a geração de dividendos aos acionistas. Não existe, de forma alguma, respeito com os usuários mineiros”, complementa.

Svizzero finaliza defendendo que em instituições como a Copasa, bem como nas agências reguladoras, deve haver pessoas oriundas do Sistema de Defesa do Consumidor. “Elas entendem os anseios dos cidadãos. A atuação deve ser e ter como ponto principal o relacionamento com os clientes e a melhor prestação de serviço possível”.