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Participação das pessoas com deficiência no mercado de trabalho ainda é baixa

Foto: Freepik.com

A inclusão de pessoas com deficiência (PCDs) na sociedade é um tema de extrema importância, principalmente quando falamos sobre o mercado de trabalho. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022, 5,1 milhões de pessoas com deficiência estavam na força de trabalho, enquanto 12 milhões estavam fora. A taxa de participação da força de trabalho entre os indivíduos sem deficiência foi de 66,4% no ano passado, já entre as com deficiência há uma queda significativa para 29,2%.

Os dados revelam que muitas barreiras ainda são impostas para essa parte da população na hora de conseguir um emprego. Para discutir o assunto, o Edição do Brasil conversou com a psicóloga e coordenadora de projetos do Instituto Ester Assumpção, Cíntia Santos.

O que a empresa deve observar ao fazer entrevistas e testes com candidatos com deficiência?
Recomenda-se adotar as mesmas técnicas comumente utilizadas pela área de Gestão de Pessoas. Todavia, faz-se necessária a flexibilidade para garantirmos a igualdade de condições entre o candidato que tem deficiência e o que não possui. É importante que não haja barreiras que o impeçam de demonstrar suas competências técnicas e pessoais. Durante as etapas do processo, a abordagem deve evitar discriminação, focando em ajustes razoáveis caso necessário. É crucial escolher locais acessíveis e considerar aspectos logísticos, quando for uma entrevista presencial, buscando compreender a vivência do candidato e suas necessidades, ajudando a colocá-lo no ambiente de trabalho adequado.

Pode ser exigida alguma experiência?
O artigo 442-A da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê expressamente que, para fins de contratação, o empregador não exigirá do candidato a emprego comprovação de experiência prévia por tempo superior a 6 meses no mesmo tipo de atividade. Quando falamos de pessoas com deficiência, precisamos levar em consideração que antes de ser instituída a obrigatoriedade de contratação de PCDs, raras eram as empresas que as empregavam. Portanto, não foram dadas a elas oportunidades para terem em seu currículo experiência profissional. De uma forma geral, não se deve exigir experiência. Por outro lado, quando a experiência for efetivamente necessária ao desempenho da função, a própria empresa deve oportunizar que a pessoa adquira internamente as habilidades, a postura de trabalho e os conhecimentos para o exercício de certos cargos.

Que outras atitudes podem ser adotadas para facilitar a contratação de profissionais com deficiência?
Durante a convivência, podemos observar como a pessoa enfrenta sua condição e quais recursos internos ela utiliza para lidar com os desafios na relação entre a deficiência e a vida social. Ao compreender a perspectiva do indivíduo em relação à sua deficiência, podemos contribuir para ajudá-lo a assumir um papel ativo. Em alguns casos, isso pode envolver trabalhar na construção ou reconstrução da autoconfiança, permitindo que a pessoa compreenda a deficiência como uma condição limitante, mas não impeditiva para desempenhar diferentes papéis sociais.

Quais são os principais cuidados que a empresa deve ter durante o processo seletivo?
O foco de um bom recrutamento precisa estar na qualidade e nas aptidões dos futuros colaboradores, o que não é diferente para as pessoas com deficiência. Embora exista a obrigatoriedade legal de contratá-las, é preciso ressaltar que os processos seletivos devem sempre focar na atração de candidatos para ocupar posições existentes e necessárias e não apenas à imposição legal. Algumas dicas que podem facilitar o processo de recrutamento são: ao divulgar a vaga, dê destaque ao cargo, não a deficiência; garanta que o processo de recrutamento esteja disponível em formatos alternativos acessíveis (por exemplo, braile, letras grandes e eletrônicas). Uma vez ocupando um posto de trabalho, o profissional com deficiência deve ser avaliado, sempre que possível, através dos mesmos critérios de desempenho adotados para seus pares. É importante acompanhar a adaptação do profissional à área, tanto no que se refere à função quanto aos aspectos interpessoais.

Onde podem ser encontrados esses candidatos?
O Instituto possui uma plataforma, com os recursos de acessibilidade necessários, onde trabalhadores com deficiência e/ou reabilitados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) podem se candidatar às vagas de trabalho. As empresas também conseguem anunciar suas vagas destinadas a esse público. O Portal Rede Ester, lançado em novembro de 2021, conta hoje com currículos de trabalhadores com deficiência com os mais variados perfis profissionais e em diversas localidades do país. Além disso, as empresas podem utilizar as tradicionais fontes de recrutamento, como sites de currículos, programas de indicação interna, Sistema Nacional de Emprego (SINE), entre outros.