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O país da fantasia

A semana começa com um debate tomando conta das manchetes dos principais sites de notícias. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, afirmou, no final de semana, que Brasília não passa de uma “ilha da fantasia”, e que a escolha da cidade como capital do país fez muito mal ao Brasil. Segundo ele, “antes de chegar aos prédios públicos, pessoas são vistas sob viaduto com fome.”

A cidade é cercada pela pobreza. Foi o bastante. Saíram de pau e pedra no ministro. A cada momento aparece uma nota contestando a sua fala. Até mesmo seus companheiros de partido o criticaram. Entidades, associações, todo mundo junto e misturado contra o ministro. Brasília é uma cidade com 33 regiões administrativas. É uma verdadeira obra de arte que saiu das pranchetas de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, depois do aval do então presidente Juscelino Kubitschek. O seu crescimento fez com que a população que buscava trabalho fosse se alojando em locais mais distantes da área central.

A periferia de Brasília, região metropolitana da capital federal, é tão pobre como em qualquer outra capital deste país. Falta segurança, saúde, saneamento básico e até esperança. Um índice de criminalidade alto e o serviço de transporte que deixa muito a desejar. De acordo com pesquisa feita pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal, Brasília tem altos índices de desigualdade social. Nas 33 regiões administrativas, existe uma população com 58% de negros e 70% de pobres com renda inferior a um salário mínimo.

O contraste com o Lago Sul é assustador. O preocupante é que pouca coisa vem sendo feita para reduzir essas diferenças. A indignação é geral, mas providências mesmo, nenhuma, principalmente das autoridades que andam emitindo as notas de repúdio ao ministro. A Ilha da Fantasia, série produzida pela TV americana, mostrava um lugar onde qualquer desejo poderia ser realizado, quanto mais extravagante melhor. Foi lançado nos Estados Unidos em janeiro de 1978 e ficou no ar durante 6 temporadas, sendo negociado para uma dezena de países. Foi produzida por Aaron Spelling e Leonard Goldemberg e tinha como atores o mexicano Ricardo Montalvan e o francês Hervé Villechaize, o Tatoo, um anão que serviu também a vilões em episódios de James Bond.

O que o ministro Rui Costa quis dizer, além da desigualdade social visível nas ruas, é o contraste com aqueles que frequentam as sedes dos poderes. Todos querem fazer um pedido e muitos deles muito extravagantes. Querem resolver questões pessoais, mas e o bem do povo? Bem, o povo é apenas um detalhe. A tal liberação de emendas é um sinal disso. É dinheiro rolando pra todo lado, mas nunca chega ao verdadeiro destinatário. Passa por muitos lugares e até chegar ao destino, muita coisa ficou nos ralos. A desigualdade estamos vendo em todos lugares. Belo Horizonte, por exemplo, nunca viu tanta gente morando na rua, seja por necessidade, falta de vergonha ou qualquer outro motivo. Não existe uma marquise no centro que não esteja ocupada por uma verdadeira comunidade.

Vejam o cruzamento da Rua da Bahia com Goiás. À noite vira uma terra de ninguém, ainda mais agora com as baixas temperaturas registradas. Resta a todos os interessados debater, verdadeiramente, quem são os protagonistas dessa Ilha da Fantasia. Quem faz o papel do senhor Roarke, o dono do resort do sonho e quem é o Tatoo, ou seriam Tatoos? Cruzes.