Uma pesquisa realizada por cientistas da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, que acompanhou 169 adolescentes de uma escola pública durante três anos mostrou que a checagem habitual e constante das mídias sociais por adolescentes está alterando o desenvolvimento cerebral e a forma como o cérebro responde aos estímulos das redes, tornando-os mais sensíveis ao feedback social.
Foi possível observar que crianças com mais seguidores e engajamento nas redes sociais apresentavam uma trajetória distinta, com sensibilidade às recompensas sociais dos colegas, as quais aumentavam no decorrer do tempo. Já os alunos não tão engajados tendem a ter uma queda no interesse pelas redes sociais.
Segundo os autores da sondagem, o cérebro dos adolescentes que verificavam as redes mais de 15 vezes por dia tornou-se mais sensível ao feedback social ao antecipar recompensas e punições sociais ao longo do tempo. Eles destacam que a maioria dos jovens começa a usar tecnologia e tem acesso a dispositivos móveis e mídias sociais em um dos períodos mais importantes para o desenvolvimento cerebral.
A psiquiatra Daniele Andrade afirma que smartphones e outras telas são uma fonte inesgotável de estímulos rápidos. “Em poucos segundos, comentários, curtidas e a atualização constante do feed de redes sociais provocam a liberação de dopamina no cérebro, neurotransmissor que dá sensação de prazer e satisfação e faz com que dificulte a estratégia de controle do uso. Essa alteração no cérebro pode acontecer e não se reverter”.
Ela fala dos perigos da exposição exagerada de crianças e adolescentes a telas. “O encéfalo é uma parte do corpo humano que vai tomando forma com a passagem do tempo. Antes dos 25 anos, essa maturação não está completamente desenvolvida. A grande quantidade de estímulos rápidos das telas pode, nessa etapa da vida, afetar o desenvolvimento do cérebro e a capacidade de concentração, uma herança que será levada para a fase adulta”.
Para Daniele, não é possível afirmar que todo adolescente que usa redes sociais vai desenvolver comportamento compulsivo, mas é importante observar que está havendo uma alteração. “Como ele recebe esses feedbacks sociais com uma frequência muito maior, isso pode provocar uma necessidade de estar constantemente recebendo essa avaliação, especialmente nessa faixa. O que a gente precisa entender é se isso vai trazer uma dificuldade ou não de processamento cerebral, que pode estar relacionada a uma suscetibilidade de desenvolver a compulsão”.