O começo de ano é marcado pelas principais semanas de moda ao redor do mundo. Porém, em 2020, foi diferente. Tão logo estourou a crise do coronavírus na China, a indústria fashion sofreu com diversos cancelamentos. Paris e Milão não tiveram suas movimentadas Fashion Weeks, que ditam tendências do setor para todo o planeta. Tóquio e Seul também cancelaram seus principais eventos do segmento. E os impactos chegaram rapidamente ao Brasil. A São Paulo Fashion Week, principal semana de moda, foi cancelada. O Minas Trend Preview, que aconteceria em BH na última semana, também foi adiado e não tem previsão de data.
Para a estilista Adriana Farina, a pandemia chegou num momento em que a indústria já se preocupava com seu ritmo frenético, principalmente do ponto de vista da sustentabilidade e investimento. “A crise sanitária forçou a disrupção desse mercado, fazendo com que desfiles e temporadas fossem ‘apagados’ da primeira metade do calendário de 2020”.
Ela acrescenta que a moda vai enfrentar um mercado recessivo e uma transformação industrial dramática. “Seremos testemunhas de algumas mudanças do sistema fashion, como o crescimento do digital, o design atemporal e o declínio do atacado, coisas que já estavam para acontecer, mas que a pandemia acelerou”.
Fernanda Thibau, diretora de uma marca de roupa de BH, acredita que a crise vai mudar a forma de consumir das pessoas. “O varejo está em constante transformação. As pessoas não vão parar de consumir, até porque a população está mais criteriosa em relação ao que comprar. As marcas estão atentas como fabricam seus produtos, com foco no processo, impacto e desejo do consumidor. A era da aparência vem perdendo espaço para a da transparência”.
Renata Marcolino, CEO de uma rede de calçados, afirma que o momento é de adaptações. “Quem não estava no on-line, tem corrido para se incluir e o e-commerce seguirá como tendência. É fato que boa parte da população ficará insegura para sair e frequentar lugares, com isso, a prioridade serão compras pela internet”. Mesmo já tendo presença na web, Renata precisou fazer ajustes. “Vendíamos pelas redes sociais, mas, agora, implantamos o sistema de delivery em 60 das 150 lojas e estamos desenvolvendo um e-commerce exclusivo”.
Adriana também enxerga o digital como uma saída. “O isolamento forçou uma mudança de comportamento que permanecerá por um tempo. Com isso, as compras on-line ganham destaque. A solução não será apenas reduzir o excesso de estoque, mas também recuperar a confiança e o entusiasmo dos consumidores, que estarão sem dinheiro, e isso não pode ser alcançado exclusivamente com descontos”.
Fernanda acrescenta que é o momento de criar alternativas que mantenham o mercado em movimento. “Temos que trabalhar o nosso mindset de crescimento para vencermos as próximas etapas. Outro detalhe importante é acompanhar e entender as mudanças e novidades no segmento de varejo. É necessário desenvolver um novo planejamento estratégico para fortalecer nossa relação com o cliente. A finalidade é auxiliar, acompanhar e relacionar com todos da cadeia produtiva para sairmos juntos desse cenário delicado”, finaliza.