A Pesquisa sobre Endividamento e Inadimplência dos Consumidores (PEIC) de Belo Horizonte, analisada pelo núcleo de Pesquisas e Inteligência da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Minas Gerais (Fecomércio MG), empregando os dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), mostra tendência de estabilidade no endividamento que segue alto e comprometendo o orçamento familiar.
O percentual de endividados em março oscilou 0,1 ponto acima sobre fevereiro chegando a 89,4% dos consumidores. Há 10 meses seguidos, o nível de endividamento na capital está acima de 84,9%, sendo que mais de 69,5% das pessoas estão com dívidas em atraso há mais de 30 dias. O percentual dos que acumulam dívidas há mais de 90 dias é de 36,9% e os que estão inadimplentes no prazo entre 30 e 90 dias somam 32,6%. O dado sugere que os indivíduos estão fazendo rodízio de contas de modo a não deixar uma pendência vencida há mais de dois meses. O tempo médio de atraso das dívidas é de 57,4 dias.
Entre as famílias da cidade, 48,2% possuem alguma conta em atraso. O índice é maior em famílias com renda igual ou inferior a dez salários mínimos (56,3%). Dos endividados, 45,8% ainda não conseguiram honrar seus compromissos e estão com dívidas em atraso. O cartão de crédito, que muitas vezes tem sido utilizado para fazer as compras do mês, foi o principal fator de endividamento em fevereiro para 85,5% dos consumidores e suas famílias.
O tempo médio de comprometimento de renda é de 5,8 meses. Em média, as dívidas comprometem 29,2% do orçamento do mês e abarcam mais de 10% da renda familiar em 73,0% dos casos, sendo que para 20,5% dos entrevistados, as dívidas comprometem mais de 50% do orçamento mensal.
O comprometimento com dívidas acima de 50% do orçamento é considerado situação de superendividamento. As dívidas mensais se referem a gastos com cheque pré-datado, cartões de crédito, fiado, carnês de lojas, empréstimo pessoal, compra de imóvel e prestação de carro e seguro.
Na comparação mensal, aqueles com as contas em atraso diminuíram, sendo 48,2% em março. Queda também no número de famílias que não terão condições de quitar as dívidas (11,1%), redução de 0.2 p.p. em relação ao mês anterior. Esse índice é maior em famílias com renda igual ou inferior a dez salários mínimos (26,6%). Considerando os indivíduos com dívidas atrasadas, 23,1% entendem que não terão condições de honrar, no próximo mês, com os compromissos adquiridos.
A economista Renata Camargos explica que os níveis de endividamento estão altos, porque as famílias procuram usar o crédito para compras sazonais no final de 2022. “No entanto, no início de ano, cresceu a dependência da renda para pagar despesas do período, como os impostos, o que mantém a busca por empréstimos para atender a demanda por diversos bens”.
Ela salienta que os juros altos encarecem ainda mais as dívidas dessas famílias. “Com o aumento da taxa e o nível de endividamento ainda elevado, a inadimplência se mantém em um patamar bastante alto. Isso prejudica também as famílias que possuem dívidas em atraso por um período maior”.
Sobre a queda no número de famílias com as contas em atraso e das que não terão condições de quitar as dívidas, ela aponta um mercado de trabalho aquecido. “Mais oportunidades de emprego e disponibilidade de renda, fazem com que as pessoas consigam ter condições de quitar todos os seus compromissos pendentes”.
O garçom Antônio Maia conta que, após ser contratado no final de 2022, conseguiu pagar suas pendências financeiras. “Quitei uma dívida pessoal de oito meses e estou conseguindo ajudar em casa com as contas atrasadas para que tudo fique regularizado”.