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Alfabetização evolui devagar na rede pública após a pandemia, diz pesquisa

40% dos pais apontam lentidão e dificuldade dos filhos na volta às aulas / Foto: Rovena Rosa – Agência Brasil

 

Conforme a pesquisa “Educação na Perspectiva dos Estudantes e suas Famílias”, encomendada ao Datafolha pela Fundação Lemann, Itaú Social e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), no retorno às aulas presenciais, após a pandemia de COVID-19, 6% dos jovens não estão avançando e 34% estão prosseguindo com dificuldades no processo de alfabetização, somando 40% de estudantes com algum desafio neste processo.

Já em escolas de menor nível socioeconômico, o número de jovens com problemas no processo de alfabetização chega a 50% (14% não estão avançando e 36% estão prosseguindo com dificuldades). Segundo os pais, 10% dos estudantes de alfabetização estão em nível muito abaixo do esperado em leitura e escrita. Esse número chega a 24% em instituições mais pobres.

Ainda de acordo com o estudo, 50% dos jovens tiveram oferta de reforço escolar pela instituição, o maior índice desde maio de 2021 (29%). Essa proporção era de 43% no mesmo período do ano anterior, segundo a série Datafolha. “É preocupante a percepção continuada das famílias, reforçada novamente nesta pesquisa, de que suas crianças não estão aprendendo a ler e a escrever como deveriam. Esse resultado deve servir de alerta para a importância da colaboração entre gestores de diferentes níveis de governo para endereçar esse desafio”, comenta Daniel de Bonis, diretor de Conhecimento, Dados e Pesquisa da Fundação Lemann.

Analise da Silva, docente da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenadora do Fórum Estadual Permanente de Educação de Minas Gerais (Fepemg), explica que essa percepção dos pais, que os filhos não estão evoluindo na aprendizagem, não é somente culpa do período pandêmico, há muitos outros fatores. “Como a queda nos investimentos em educação, que não começou com a crise sanitária. Desde 2016, vinha se aprofundando, com cortes no ensino superior, o não pagamento do piso nacional ao magistério, a falta de investimento em projetos, como o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD), do Olhar Brasil, de incentivo aos esportes, entre outros”.

De acordo com Analise, a defesa é a de que as escolas deveriam privilegiar o acolhimento, pensado nas dificuldades atuais dos jovens. “Ao longo da pandemia, se criou um desejo de que as instituições voltassem em outro modelo, mais acolhedor, repensando a sua forma de ser e ensinar. Só que elas não só não mudaram, como se apresentam completamente aflitas com o fato de os estudantes terem perdido esses anos de escolaridade”.

Ela acrescenta que a expectativa era que os gestores públicos fossem investir a verba necessária em educação, para garantir que toda e qualquer escola pública fosse local de acolhimento e de aprendizagem. “No geral, as redes escolares não utilizaram o tempo do fechamento para planejarem o seu retorno e acabaram se apoiando na estrutura antiga. Quanto mais as instituições tentarem retomar suas atividades como antes, mais vão provocar essas reações contrárias, muitas vezes inconscientes, e que se manifestam em forma de sofrimentos, conflitos, violência, indisciplina e negação de aprender o que é ensinado”.

Avaliações dos períodos

Segundo o estudo, as avaliações para conhecer as dificuldades dos alunos acontecem principalmente na fase de alfabetização (73%), contra 58% no ensino médio. Já os anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), o desafio parece ser a falta dessa análise: 35% dos pais e responsáveis acreditam que o principal problema da escola, em relação às perdas de aprendizagem pela COVID-19, ocorre porque a instituição não está fazendo o suficiente para avaliar a ausência de aprendizado e identificar áreas que os adolescentes precisam de apoio.

Ilustra este cenário, o fato de os pais acreditarem que os professores conhecem pouco a respeito das dificuldades de aprendizado de quase metade dos alunos (46%), além de perceberem que para 49% dos estudantes há pouco apoio individualizado para aqueles que não estão conseguindo acompanhar as aulas, nessa etapa escolar.

Gleicilene de Paula, supervisora de loja, que tem um filho cursando o 7° ano, no sistema público, relata que ele também está tendo dificuldades na aprendizagem. “Mas não acredito que só a escola sozinha resolve esse problema. A família e a instituição têm que trabalhar juntos, para voltar ao ritmo de antes e obter o resultado”.