
Disponível nas farmácias brasileiras a partir da primeira quinzena de maio, o Mounjaro chega como mais uma alternativa no combate ao diabetes tipo 2 e à obesidade. O medicamento foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O médico especialista em emagrecimento e saúde integrativa, Lucas Penchel, explica que a tirzepatida, princípio ativo do Mounjaro, é uma molécula inovadora que imita a ação de dois hormônios intestinais, o GLP-1 e o GIP, atuando diretamente na regulação da saciedade, do apetite e da glicemia.
“A medicação ajuda a reprogramar o metabolismo da pessoa, atuando na melhora da glicose e de alterações metabólicas, como a gordura no fígado. Além disso, promove a desinflamação do organismo e contribui para a melhora geral do metabolismo. Por todas essas características peculiares, proporciona uma perda de peso superior à de qualquer outro remédio, sendo a primeira droga comparada à cirurgia bariátrica por possibilitar uma redução maior que 20% do peso corporal”.
Penchel ressalta que fatores como sedentarismo, sono de má qualidade, alterações hormonais, ansiedade, uso de medicamentos, metabolismo lento e compulsão alimentar contribuem para o ganho de peso. “A maioria das medicações atua apenas no emagrecimento. No entanto, as causas subjacentes não são tratadas. Ou seja, a pessoa emagrece, mas continua dormindo mal ou apresentando disfunções metabólicas, o que faz com que readquira o peso na maioria das vezes”.
“Além do uso de medicamentos, é fundamental um acompanhamento multidisciplinar para tratar fatores que levam ao excesso de peso, como a melhoria do sono, a prática regular de atividade física, a identificação e correção de desequilíbrios hormonais, a hidratação adequada e a criação de uma rotina saudável. Também é essencial abordar questões emocionais, como a ansiedade, que pode levar à compulsão alimentar e comprometer os resultados a longo prazo”, acrescenta.
Antes de iniciar qualquer tratamento para emagrecimento, é imprescindível realizar um acompanhamento adequado, orienta Penchel. “Sabemos que o efeito sanfona é extremamente prevalente e, muitas vezes, ocorre após a interrupção do uso de medicamentos, especialmente em pessoas que não têm frequência no consultório. O efeito sanfona é muito mais prejudicial para a saúde do que a própria obesidade”.
Efeitos colaterais
A endocrinologista Alessandra Rascovski alerta que o uso da tirzepatida sem acompanhamento especializado pode acarretar riscos significativos para o paciente. “Perda de peso temporária e efeitos colaterais como náuseas, gastrite, risco nutricional por baixa ingestão de proteínas, pancreatite, alterações renais por desidratação e distúrbios neuropsiquiátricos. O acompanhamento médico é fundamental para identificar e tratar rapidamente possíveis complicações”.
Venda apenas com receita
Em abril, a Anvisa determinou que a venda do Mounjaro e de outras canetas emagrecedoras só poderá ser realizada mediante retenção da receita médica. Alessandra avalia que a decisão é pertinente. “Um uso racional, orientado por profissional de saúde, permite um melhor controle sobre a utilização da medicação, além de garantir o acesso para quem realmente precisa. O monitoramento da evolução do tratamento também se torna mais provável com a exigência da receita”.
Ela ressalta que, apesar do grande potencial desses medicamentos para o tratamento da obesidade e do diabetes tipo 2, surgem novos desafios relacionados ao uso indiscriminado. “São medicamentos revolucionários. Para os pacientes que realmente necessitam, especialmente com a classe dos agonistas duplos, como a tirzepatida, os resultados têm sido muito positivos e com menos efeitos adversos. No entanto, a prescrição responsável e a educação do paciente, reforçando que essas drogas são auxiliares e não substituem mudanças no estilo de vida, representam um grande desafio para os médicos”.