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Trabalhe como uma mulher

Em um mercado dominado por homens, aos poucos elas estão conquistando cada vez mais espaço e mostrando que são capazes. Muitas profissões taxadas como “masculinas” já possuem o sexo feminino no comando. Ainda há muito o que melhorar para termos uma sociedade mais justa e igualitária, mas o caminho já está sendo percorrido. São pilotas de helicóptero, engenheiras, mecânicas, motoristas, jogadoras de futebol, poker, políticas, entre outras funções.

Ao longo do mês de março, o Edição do Brasil lançou a série #OndeElaQuiser, com histórias de mulheres que quebram paradigmas e servem de inspiração e motivação para outras. Na quarta e última reportagem, conversamos com Bárbara Brier, mecânica e consultora automotiva, e Olívia Gomes e Carolina Lacorte, engenheiras civis. Elas falam um pouco sobre a carreira, desafios, empoderamento feminino e como fazem para driblar preconceitos.

Motor de mudanças

Nascida na periferia de Belo Horizonte e de família simples, Bárbara Brier ingressou no mundo da mecânica automotiva ao acaso. Ao terminar o ensino fundamental, precisava de um curso técnico que lhe garantisse uma profissão e um emprego. Ficou sabendo do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e se inscreveu em vários cursos. Sua meta era conseguir a vaga de web design, mas passou para técnica automobilística. Aos poucos, a jovem começou a se interessar muito pela área.

Na época em que fazia o curso, na turma de 15 alunos havia 3 mulheres. “Tive a sorte de ter mais duas colegas. A gente sofria às vezes com piadinhas. Eu sempre tentava não me incomodar, mas aquilo me chateava. Com persistência, foco e força de vontade fui levando”, relembra.

Ao concluir o curso, em 2005, conseguiu um emprego em uma montadora. Logo depois, também ingressou na faculdade de produção industrial e fez pós-graduação. Bárbara foi crescendo na profissão e passou a dar treinamentos para oficinas de todo Brasil. Além da paixão pelos carros, também descobriu que gostava de ensinar.

Ela decidiu dar aulas de mecânica para outras mulheres. “São orientações quanto a manutenção. Existe uma pesquisa mostrando que nós somos as que mais compram automóvel no Brasil e as que mais levam seus veículos em oficinas. O curso de mecânica básica vem para orientar e ajudar essas mulheres. Elas aprendem, por exemplo, o funcionamento do motor e o que é necessário verificar para fazer a manutenção no dia a dia, troca de água e óleo”, explica.

Bárbara diz que o selo “Oficina Amiga da Mulher” nasceu a partir dos treinamentos. “As que recebem o selo são mais confiáveis e estão preparadas para receber o público feminino. Em Belo Horizonte são 6 locais”.

Construindo o futuro
Saindo da área da mecânica automotiva e passando para engenharia civil, outras duas mulheres ganham destaque. Olívia Gomes e Carolina Lacorte são sócias e proprietárias na Lacorte & Gomes Engenheiras Associadas. Elas são responsáveis por fazer avaliações e perícias, projetos, reformas, problemas estruturais, entre outras atividades da área da construção civil.

Formadas há 4 anos pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), elas se conheceram durante a graduação. “Na época me chamaram para fazer um trabalho como autônoma e convidei a Olívia. A partir disso outras oportunidades apareceram e montarmos uma sociedade. Nosso escritório tem 3 anos”, conta Carolina.

Olívia diz que a maioria de suas clientes são mulheres. “Elas nos procuram pela internet ou ficam sabendo por meio de outras pessoas, pois estão em busca de um atendimento diferenciado e preferem lidar com outras mulheres. A gente fica muito orgulhosa disso, pois na profissão de engenharia existe o estereótipo de ser sempre exercida por homens”.

As duas estão sempre buscando mais conhecimento e se atualizando. Além da graduação, possuem diversos cursos na área. “Acredito que nenhum profissional é completo. A medida que aparecem trabalhos, vamos nos especializando. A Carolina iniciou na faculdade de arquitetura para completar nossa parte de projetos. Eu gosto da área de perícias e gerenciamentos de projetos e corro atrás de cursos com essa temática”, explica Olívia.

Ainda de acordo com ela, quando entrou na faculdade a turma possuía cerca de 60 alunos, com 50 homens e 10 mulheres. “Um dos professores, elogiando, disse que era uma turma bem feminina. Eu não entendi bem na época, mas hoje percebo como essa profissão pode empoderar mulheres. Recentemente, atendemos uma candidata a estágio e ela disse que as turmas hoje em dia estão meio a meio. Isso é um motivo de orgulho para nós”, diz.

Carolina salienta que há menos de 10 anos, os diplomas na universidade onde se formaram saiam com o nome de engenheiro civil e não como engenheira. “Atualmente isso foi mudado e mostra como a profissão se transformou e tem aceitado melhor as mulheres”, comemora.

As duas também dão oficina de empoderamento, chamada “Elas pintam e bordam”. “Já fizemos quatro edições. Elas colocam a mão na massa, aprendem como lixar uma parede, realizar o acabamento e etapas de pintura. Na primeira edição não imaginávamos que seriam tantas queixas contra os homens quando se tratava de reformas”, afirma Carolina.

Muitas mulheres as incentivaram e serviram de inspiração para persistir na profissão. Em um momento de muita dificuldade durante o curso, Carolina pensou em desistir, mas encontrou uma professora que a aconselhou e a motivou a seguir. “Me senti acolhida, passei a me dedicar mais e consegui finalizar a graduação”. Para Olívia, a inspiração vem de sua primeira chefe. “Na época era estagiária e presenciei engenheiros a menosprezando. Fiquei um pouco chocada com a situação. Ela simplesmente não respondeu as provocações. Disse que quando o trabalho estivesse pronto, todos veriam a nossa capacidade”.

Para as mulheres que desejam iniciar na profissão de engenheira, Olívia diz que recebe mensagens pedindo conselhos sobre o assunto. “O segredo é ter carinho, empatia e sororidade. Fazer um bom trabalho e abrir caminhos para futuras engenheiras, assim como muitas abriram para nós. A gente tem que mostrar que o lugar da mulher é onde ela quiser”, conclui.