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Faturamento das PMEs recua e confiança dos empresários cai

Redução nas receitas faz com que o planejamento seja revisado / Foto: Freepik.com

O faturamento das pequenas e médias empresas (PMEs) no Brasil registrou retração de 1,2% no primeiro trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período de 2024. Frente ao quarto trimestre do ano passado, a queda foi de 1,5%, conforme o Índice Omie de Desempenho Econômico das PMEs (IODE-PMEs).

Esse resultado representa o pior desempenho do indicador desde o final de 2021. Os setores da indústria (-5,8%) e de infraestrutura (-3,3%) lideraram as perdas. Já o segmento de serviços teve recuo mais leve, de 0,2%.

“O resultado foi influenciado, principalmente, pelo aumento das incertezas fiscais, que pressionaram as expectativas inflacionárias e impulsionaram a elevação das taxas de juros, comprometendo o poder de compra das famílias. No cenário externo, as dúvidas quanto à política tarifária dos Estados Unidos e as reações de outras economias, como a China, também contribuíram para um ambiente mais adverso”, explica o gerente de Indicadores e Estudos Econômicos da Omie, Felipe Beraldi.

O economista Wallace Marcelino Pereira ressalta que a instabilidade fiscal afeta o planejamento de longo prazo, especialmente entre os empreendedores de menor porte. “A incerteza orçamentária impacta negativamente as expectativas sobre a inflação futura, pois o mercado projeta uma expansão dos gastos acima do previsto, o que exige aumento da taxa básica de juros. Com juros mais altos, o financiamento ao consumo e ao investimento produtivo fica inibido, já que captar recursos se torna mais caro. As PMEs operam com fluxo de caixa limitado, portanto, qualquer choque macroeconômico tem efeitos mais intensos sobre elas, inicialmente reduzindo o faturamento e depois, inviabilizando operações”.

Apesar das retrações em diversos setores, as PMEs comerciais registraram alta de 7,9% no faturamento médio real no primeiro trimestre de 2025, em relação ao mesmo período do ano anterior. No entanto, atacado e varejo apresentaram comportamentos distintos, conforme o IODE-PMEs.

Segundo Beraldi, o crescimento do comércio foi impulsionado principalmente pelo atacado, com destaque para os segmentos de bebidas, resinas e resíduos de papel e papelão. “Já o varejo voltou a apresentar retração (-1,3%) devido à queda no ímpeto de consumo das famílias, impactadas pela perda de confiança dos consumidores e pelo avanço das pressões inflacionárias e das taxas de juros”.

Empresários mais cautelosos

De acordo com a última edição da Sondagem Omie das Pequenas Empresas, 51% dos empreendedores entrevistados esperam piora na economia, percentual superior aos 39% registrados na pesquisa de setembro de 2024.

Beraldi atribui o cenário mais desafiador à queda na confiança dos consumidores (-7,6%) entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, conforme a Sondagem do Consumidor da FGV-IBRE. “Isso afetou diretamente o faturamento das PMEs ao reduzir o consumo das famílias e aumentar a cautela dos empreendedores quanto a investimentos e expansão, contribuindo para o que vimos no primeiro trimestre”.

Pereira destaca que, embora medidas como a ampliação de concessões e a revisão de certos gastos públicos estejam sendo adotadas para estimular o consumo, também são necessários investimentos estruturais. “É fundamental implementar políticas voltadas à melhoria da infraestrutura de transportes, telecomunicações e geração de energia”.

“Isso torna o sistema produtivo nacional mais competitivo no médio e longo prazos. Ou seja, o governo precisa ter uma estratégia de desenvolvimento econômico bem definida e coerente, que assegure ao setor produtivo a possibilidade de investir com menor custo e maior eficiência”, complementa.

A disputa comercial entre Estados Unidos e China pode abrir oportunidades para as PMEs brasileiras, observa Pereira. “A resposta chinesa pode incluir a ampliação da compra de produtos e serviços do Brasil. Representando uma chance de realinhamento das relações comerciais e produtivas em favor das empresas nacionais. Mas é necessário que o país esteja atento e preparado para aproveitar essa janela”.

Apesar dos desafios, Beraldi acredita que o cenário econômico brasileiro não indica paralisação completa do crescimento das PMEs. “O setor pode acompanhar a expansão do PIB, projetada em torno de 2%. Nesse contexto, estratégias que aumentem a confiança dos agentes econômicos, reduzam a incerteza fiscal e facilitem o acesso ao crédito em condições mais favoráveis seriam caminhos para mitigar os impactos negativos e estimular o desenvolvimento”, conclui.