De acordo com a Associação Brasileira do Sono (ABS), 73 milhões de pessoas sofrem de insônia. E um dos medicamentos utilizados para o tratamento desse problema é o zolpidem que, nos últimos meses, virou assunto nas redes sociais por causa de relatos dos usuários relacionados aos efeitos colaterais. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estima que, entre 2011 e 2018, a venda do fármaco cresceu 560% no país. Apenas em 2020, foram comercializadas 8,73 milhões de caixas desse remédio nas drogarias brasileiras.
O psiquiatra Diego Tinoco explica que o zolpidem pode ajudar o paciente que tem dificuldade para iniciar o sono. “Sua indicação clínica é restrita a algumas situações e não deve ser utilizado além do prescrito e nem por um período muito longo. O remédio pode ter efeitos colaterais indesejáveis, o que pode ser suficiente para suspender o uso. As pessoas mais sensíveis e que manifestam reações não devem continuar tomando, sendo fundamental relatar ao médico para avaliar uma possível troca”.
Tinoco destaca que o medicamento tem uma eficácia rápida. “Age em torno de 15 a 20 minutos, na maioria dos casos. Quem deseja dormir rapidamente consegue obter esse resultado, porém, ele tem um efeito curto durante a noite. Além disso, muitos utilizam o zolpidem devido às alucinações geradas e uma sensação de bem-estar ou como alguns pacientes dizem: ‘dá uma onda boa’. O que na verdade pode gerar graves consequências em curto, médio e longo prazo”.
Cuidados quanto ao uso
O psiquiatra alerta que é primordial usar o zolpidem apenas com prescrição médica. “Também é fundamental que o indivíduo tome o remédio somente na hora de ir dormir e não faça outras atividades, inclusive mexer no celular. Isso porque não é incomum as pessoas relatarem queixas de amnésia, ou seja, esquecer o que fez ou combinou, após tomar o fármaco”.
Ele pontua que o zolpidem pode desencadear vários efeitos colaterais. “Os mais comuns são tontura, dificuldade de lembrar das coisas, sonambulismo, alucinações e dor de cabeça. Tem outras reações que também estão associadas ao medicamento, mas são raras, como boca seca, coração acelerado, dores pelo corpo, visão embaçada, agitação e/ou confusão mental”.
Contudo, Tinoco esclarece que essas reações são de curta duração e costumam acontecer de minutos a horas após tomar o remédio. “Outro problema que devemos ficar atento é a característica que ele tem de provocar dependência. Quanto mais tempo uma pessoa utilizar esse medicamento, maior a chance de ficar dependente”.
Ele comenta também que o zolpidem não deve ser consumido por grávidas e crianças. “Os idosos mais frágeis devem ter muito cuidado devido ao risco de queda. Já os pacientes que trabalham em alturas, com máquinas pesadas ou que estão em uso de outros medicamentos depressores do sistema nervoso central devem evitar o uso, assim como pessoas dependentes do álcool ou com histórico de sensibilidade a esse remédio”.
Tinoco ressalta ainda que na maioria das vezes a primeira opção para dormir não é medicar, mas mudar o estilo de vida e higiene do sono. “Quem apresenta esse distúrbio deve ser avaliado de forma cuidadosa para entender o que está por trás dessa dificuldade, porque podem ser várias causas diferentes, desde situações pontuais de problemas financeiros, familiares ou relacionamento profissional, até casos de apneia do sono, transtorno depressivo, ansiedade, bipolaridade e etc. É fundamental entender o motivo para tentarmos tratar sem iniciar com um medicamento de forma imediata”.
Reações colaterais
A assessora de imprensa, Aline Batista, usou zolpidem por quatro meses. “Durante o uso tive amnésia, não recordava de nada que acontecia alguns minutos antes de dormir. Se caso usasse o celular, mandava mensagem e no outro dia, não lembrava. Sempre procurava tomar o remédio já quando estivesse na cama e com o quarto apagado para evitar essas situações. Depois o médico suspendeu o medicamento para evitar o vício. Tomava somente nos dias que houvesse a insônia, não foi medicado para uso diário”.
Um caso que ficou famoso nas redes sociais foi do jovem que relatou ter comprado dois pacotes de viagem para Buenos Aires, na Argentina, no valor total de R$ 9 mil, após consumir o zolpidem. Ele contou que tomou a medicação, teve alucinações e fez a compra. O banco cancelou o pedido, por motivo de segurança.