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Desigualdade social ainda assola o Brasil

Foto: Pixabay

Um relatório da Oxfam mostrou que quatro dos cinco bilionários no Brasil tiveram um aumento de 51% de sua riqueza desde 2020, enquanto 129 milhões de brasileiros ficaram mais pobres. O levantamento também indicou que o 1% mais abastado tem 60% dos ativos financeiros do país, além de que a pessoa mais rica tem uma fortuna equivalente à metade mais pobre. Outro dado relevante é que, em média, o rendimento das pessoas brancas é mais de 70% superior à renda de pessoas negras. Para discutir a questão da desigualdade social, o Edição do Brasil conversou com a gerente de Programas, Incidência e Campanhas da Oxfam, Maitê Gauto.

Por que a distribuição de renda é desigual?
Do ponto de vista mais amplo, a própria estrutura das desigualdades brasileiras está calcada no racismo e no sexismo. As mulheres ganham salários menores que os homens nos mesmos postos de trabalho, e para as pessoas negras é a mesma situação. Temos também um sistema tributário que é regressivo, baseado em impostos sobre o consumo, fazendo com que o impacto seja maior sobre as famílias de renda mais baixa e muito menor para as pessoas de renda alta.

Quais são os principais problemas que a desigualdade social pode causar em uma nação?
Afeta o desenvolvimento social, econômico e ambiental do país. Tanto do ponto de vista do ingresso das diferentes pessoas e grupos ao mercado de trabalho, diferença da capacidade de acesso ou de consumo. Além disso, a desigualdade faz com que as pessoas mais vulnerabilizadas enfrentem, de maneira mais severa, a inflação sobre os alimentos, bens, aluguéis e também o impacto das mudanças climáticas.

Quais ações poderiam ser tomadas para reduzir os índices?
Uma delas é a reforma tributária no que se refere aos impostos sobre patrimônio e renda. A discussão da taxação de grandes fortunas também é a medida, hoje, mais eficaz e mais justa para reduzir a desigualdade. A medida faz com que quem ganha mais pague mais tributos, mas também constitui fundos necessários para os diferentes investimentos que o Estado brasileiro precisa fazer.

Quais são as consequências de não combater o problema?
Ainda estamos vivendo os impactos da pandemia, da escalada da fome e da crise econômica. Não combater as desigualdades vai fazer com que a gente tenha um cenário maior de degradação social, de empobrecimento da população e de redução da capacidade de resiliência das famílias. É fundamental que o governo, nas suas diferentes esferas, esteja comprometido.

A questão racial tem grande influência nesse tema?
Sim, a gente não pode negar que a desigualdade racial é um fator estruturante nas desigualdades brasileiras, de toda a herança de quase 400 anos de escravidão no país e na maneira como o racismo se manifesta na sociedade. Desde a questão dos salários menores, da qualidade das políticas públicas que são acessadas majoritariamente por essa população, da maneira como as políticas de segurança pública são estruturadas, com uma criminalização maior das pessoas negras. É todo um sistema social desenvolvido em cima de uma estrutura racista, onde a cor da pele faz diferença nos diferentes âmbitos de desenvolvimento de um cidadão.

Em sua avaliação, o Brasil está caminhando para diminuir essa situação?
Sim, os diferentes investimentos que têm sido feitos, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) mais recente, mostrou um aumento da massa de rendimentos, mas no quesito desigualdade os percentuais e as médias podem esconder questões bastante importantes. Por exemplo, o fato de que os 10% mais ricos ainda têm ganhos 14 vezes maiores do que os 40% mais pobres.