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Educação sexual: tema ainda é cercado de preconceitos

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A educação sexual para jovens é uma ferramenta de orientação e autoconhecimento que, por meio do diálogo, leva os adolescentes a refletirem e elaborarem sentimentos sobre conhecimentos e comportamentos relacionados à sexualidade humana.

Além de propiciar um entendimento livre de preconceitos, capaz de elucidar dúvidas sobre o corpo e formas de obter prazer, ainda mostra os riscos de alguns comportamentos, promovendo saúde e exploração da sexualidade de maneira responsável. Para esclarecer mais sobre esse tema, o Edição do Brasil conversou com o psicólogo clínico e psicanalista, Eduardo Oliveira.

Qual a importância da educação sexual para os jovens?
Sua importância é no sentido de levar aos jovens mais informações, conscientizando-os sobre o corpo como propriedade de respeito, de suas funções biológicas e de autocuidado. A pré-adolescência gera muitas dúvidas e questionamentos em relação às transformações físicas e emocionais. São muitas mudanças ocorrendo involuntariamente e o papel da educação sexual é acolher, promover, instrumentalizar e viabilizar uma maior compreensão desta fase.

Qual é o papel dos pais em relação aos filhos?
Os pais, mesmo sem perceber, fornecem um roteiro do que é ser um homem e uma mulher. Apenas por essa configuração, já se tem algo de educação sexual acontecendo naturalmente. Na medida em que a criança vai crescendo, novos desafios e conquistas serão apresentados e a obrigação deles é propiciar segurança, amor e afeto com responsabilidade diante da realidade. Cabe aos genitores o dever de educar e, neste sentido, é necessário que criem um ambiente familiar de leveza e espontaneidade no que diz respeito à educação sexual.

A educação sexual tira a inocência de crianças e as incentiva a fazer sexo ou isso é apenas desinformação espalhada por conservadores?
Já ouvi esta pergunta em diversos contextos sociais, que o tema promove a sexualização precoce das crianças, levando a mudarem de orientação sexual ou ainda a questionar seu gênero. Essa afirmação além de equivocada é um tanto ingênua, descontextualizada e descabida. Educação sexual não é ensinar a fazer sexo.
No contemporâneo, a tecnologia coloca nas mãos, melhor, nas pontas dos dedos, a informação/desinformação 24 horas por dia. O que me leva a reforçar ainda mais a educação sexual bem estruturada como meio essencial para fornecer conhecimento e esclarecer dúvidas sobre os temas relacionados à sexualidade.
As crianças e adolescentes, cada um à sua maneira, já pensam, discutem e buscam explicações sobre estas questões todas sem precisar da própria escola ou do seu próprio meio familiar. Por que não oferecer isso em um ambiente seguro?

É importante o governo implementar políticas públicas para aplicar a educação sexual nas escolas?
Sim. É preciso reparar, instrumentalizar, dito de outra maneira, profissionalizar os agentes principais desse mecanismo, os professores. Prepará-los, capacitá-los para lidar com este tema nos diversos contextos da escola, desde o ingresso da criança até o ensino médio. Promover boas práticas para que possam contribuir ainda mais na transformação dos nossos jovens em adultos conscientes do seu valor, em consequência ao valor do outro e das diferenças.

A educação sexual pode ajudar em casos de crianças e adolescentes vítimas de abuso e assédio sexual dentro e fora de casa?
Sim. Ao discutir assuntos, por meio de atividades no ambiente escolar, como palestras, rodas de conversas, livros, filmes, estamos assegurando maior conscientização, produzindo a ideia de integridade corporal, mostrando os limites das relações sociais e incentivando a autoconfiança. Isso leva a criança e o adolescente a questionarem suas relações, viabilizando sua segurança ou até os encorajando a relatar o abuso. O simples fato de promover o conhecimento na escola já é uma dificuldade para o abusador.
Em alguns estados do Brasil, por exemplo, a educação sexual foi a principal medida para reduzir os índices de abuso de crianças e adolescentes, o que reforça a importância de abordar este tema na família e na escola.
E também orientar sobre os canais de informações e denúncias (Disque 100 – Disque-denúncia Nacional de Abuso e Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes) e as redes de apoio como Centro Especializado de Assistência Social (Creas).