Home > Destaques > Prioridades para jovens são saúde e família, diz pesquisa Datafolha

Prioridades para jovens são saúde e família, diz pesquisa Datafolha

Foto: Freepik.com

Pesquisa do Datafolha entre jovens de 15 a 29 anos mostrou que entre os temas de maior relevância estão saúde e família. O percentual que classifica como muito importante a saúde, por exemplo, é de 87%. A família figura em segundo lugar, com 81%. Em seguida, aparecem estudo, trabalho, lazer, dinheiro, amigos e religião. Nas últimas posições estão sexo, beleza e casamento. Para conversar mais sobre esse assunto, o Edição do Brasil entrevistou o psicólogo clínico, Eduardo Oliveira.

Priorizar a família tem relação com um possível conservadorismo por parte dos jovens?
As relações permeadas de autoritarismo e um tanto patriarcal foram reforçadas nos últimos 5 anos, o que poderia contribuir com uma posição conservadora, entretanto, o conceito de família não se trata de algo imutável e rígido. Pelo contrário, está em constante transformação e os jovens são mais suscetíveis às mudanças, sendo um contraponto ao conservadorismo.
A família nas vias constitucionais e do direito está alicerçada nas relações de afeto (contrário ao critério anterior que se baseava no matrimônio e na procriação). Os jovens podem remeter ao termo família diversos elementos representantes de um ambiente de acolhimento, confiável, seguro e conhecido. E não, necessariamente, estarem numa posição conservadora propriamente dita.

Em sua opinião, a pandemia influenciou o fato de o tema saúde ser listado como prioridade?
Sim. A experiência de inúmeras vidas ceifadas e da repercussão pandêmica acabou criando mais atenção à saúde. Preocupação, muitas vezes, negligenciada por parte dos adolescentes. Essa área, física e mental, tornou-se também algo prioritário e fundamental para essa faixa etária.

Você acredita que o estímulo e fácil acesso a conteúdos eróticos na internet tem contribuído para que os jovens fiquem menos interessados por sexo na vida real?
Em países como o Japão, estudos apontam para esta realidade (um direcionamento para mangás e filmes de anime), o que dificulta encontros para interações na vida real. Esse ambiente que reforça a busca de sexo sem parceria pode, aos poucos, produzir nos jovens a ideia que isto seja o padrão.
Nestes moldes, o interesse pelo encontro real regride, a libido, usada para diversas áreas da vida, quando direcionada para o sexo – via materiais pornográficos – amplia as condições fantasiosas já inerentes a cada indivíduo, prejudicando contatos reais. Tudo isso acaba criando inibições, vícios, ejaculação precoce, além de contribuir com o surgimento de parafilias (fantasias ou comportamentos frequentes, intensos e sexualmente estimulantes que envolvem objetos inanimados) ou intensificá-las.

Os padrões de beleza impostos pelas redes sociais podem causar distúrbios na autoimagem nos adolescentes?
Sim. Mas, é importante saber que nem todos estão sujeitos a distúrbios em decorrência dos bombardeios de “perfeição” estimulados nas redes sociais. Os jovens e, predominantemente, as meninas estão mais suscetíveis a terem que lidar com a autoimagem de maneira mais intensa.
Os padrões limitam, excluem a diversidade de corpos e podem criar uma imagem idealizada que estará em discrepância com a real. É isto que os padrões propiciam e as redes sociais reforçam ao apresentar um “mundo” que precisa ser seguido para quem desejar se sentir bonito.
As redes até contribuem, mas não são as únicas responsáveis. Há certa vulnerabilidade estrutural advinda dos tempos infantis no que diz respeito à autoestima básica.

Para você, o que explica o casamento ocupar as últimas posições do estudo?
O conceito de família, os ideais do feminismo, tudo está mudando e não seria diferente com o casamento, ainda vinculado a preceitos religiosos e, cada vez mais, questionado do ponto de vista filosófico, social e cultural. Os tempos mudaram e outras formas de coabitar se propõe aos jovens. O matrimônio não é visto como algo duradouro e seguro e novas maneiras de relacionamento estão despertando interesse nestes jovens.
Importante observar que na faixa etária pesquisada pelo Datafolha, a geração está ocupada com outras questões, como estudar, ter estabilidade financeira, autonomia, viajar, etc. E isso pode modificar quando eles estiverem com trinta anos ou mais.

Além das novas percepções de relacionamentos, você acredita que os jovens estão mais focados em dinheiro e carreira?
Não necessariamente. Novos padrões, ditados pelo modelo econômico, têm ganhado cada vez mais atenção entre os jovens. Mas, isso não significa dizer que eles querem se relacionar somente com propósitos financeiros. Em idades maiores, alguns interesses podem ter sido alcançados, mesmo que parcialmente. E, neste momento, poderá haver um investimento em outras áreas da vida social