Cuidar do peso é fundamental para ter um crescimento saudável e evitar problemas com a obesidade infantil. Um estudo, encomendado pelo Ministério da Saúde, mostrou que uma em cada 10 crianças brasileiras de até 5 anos está com o peso acima do ideal. Os números chamam atenção e podem estar ligados à compulsão alimentar infantil, que é quando se ingere quantidades exageradas de comida de forma descontrolada e sem consciência.
A nutricionista Paula Machado explica que a obesidade infantil está relacionada aos alimentos ricos em açúcar e que contém aditivos químicos e artificiais. “É tudo industrializado e ultraprocessado, que são aqueles que vêm dentro de pacotinhos e não são naturais. Eles acabam viciando o cérebro e o paladar e faz com que queiram consumir cada vez mais esse tipo de comida”.
Ainda de acordo com Paula, o estilo de se alimentar foge do que deveria ser. “Às vezes por praticidade, pelo próprio hábito da nossa cultura ou pela indústria de alimentos que apela para esse tipo de alimentação. Com isso, as crianças estão sofrendo com sobrepeso ou obesidade. Esse número vem crescendo ao longo dos últimos anos”, afirma.
Segundo a nutricionista, estar fora do peso traz algumas consequências. “Ela pode se tornar diabética ou ter colesterol elevado. Se pensarmos para o lado psicológico e social, a criança pode sofrer bullying. Não se sente bem com o próprio corpo, começa muito cedo a ter problemas de autoestima e se isola socialmente. Isso mais tarde pode trazer algum tipo de transtorno alimentar associado, como a compulsão, anorexia e bulimia. Elas também acumulam muita gordura abdominal, que é uma das mais nocivas para essa idade, pois tem relação com doenças cardiovasculares”.
Compulsão
O sobrepeso ou a obesidade podem estar ligados à compulsão alimentar infantil. Mas é preciso analisar cada caso com o auxílio de um profissional. Paula salienta que existem algumas características visíveis que podem indicar um quadro de compulsão. “Uma criança que come de forma descontrolada e belisca o dia inteiro, por exemplo. Na hora do almoço come seu prato de comida já pensando em repetir. Coloca uma colherada de comida na boca, nem mastigou direito e já parte para a segunda. São crianças que demonstram certa agressividade e descontrole emocional, diante de uma situação em que alguém negue a ela algum alimento. Esses são alguns dos principais sinais, mas não podemos afirmar de primeira sem antes investigar. Mas todos esses comportamentos nos levam a pensar que seja um quadro de compulsão alimentar”.
Nesse contexto, os pais devem prestar atenção nos filhos para conseguir diagnosticar o problema e buscar ajuda. “Ao perceber alguns desses sinais, recorrer a ajuda de um profissional que trabalhe na área de comportamento alimentar, como nutricionistas e psicólogos. O objetivo é tentar entender o problema, se aprofundar no assunto e conversar com os especialistas para que as ações sejam tomadas para auxiliar seu filho de alguma forma”, explica.
Alimentação infantil
Até os 5 anos a criança está em fase de desenvolvimento e uma alimentação adequada faz toda a diferença. “É aquela que equilibra os diversos grupos alimentares, baseada em vegetais, frutas, legumes, cereais integrais. Com uma variedade de frutas na alimentação, estamos proporcionando todos os nutrientes necessários. Além disso, são muito ricas em água que ajudam na hidratação e em fibras que facilitam o funcionamento do intestino”.
A nutricionista chama atenção que muitas mães com crianças com sobrepeso ou obesidade, compram produtos que são diet ou light na tentativa de forçar o emagrecimento. “Isso não é indicado, porque todos os alimentos para essa fase da vida devem ser integrais. E esses produtos sempre têm algo que é artificial ou não natural, que não faz bem para o organismo da criança e pode trazer problemas para o desenvolvimento”.
Comendo por ansiedade
A auxiliar de escritório Adriana Mazza teve que lidar com a compulsão alimentar do filho Samuel, de 5 anos. “Nas festas de aniversário dos amiguinhos, enquanto outras crianças comiam dois ou três salgadinhos, meu filho já tinha comido oito. Os docinhos eram os piores. Por serem menorzinhos, colocava dois de uma vez na boca. Uma vez fui limpar o quarto dele e achei papel de biscoito e desses bolinhos industrializados debaixo da cama”, relata.
Segundo ela, o filho quase sempre repetia o almoço, comia rapidamente e não tinha limites de quantidade. “Se fosse alguma comida que ele gostasse muito, como frango empanado e batata frita, comia tudo até acabar”. Adriana percebeu que algo estava errado e procurou ajuda. “Levei o Samuel no nutricionista e ele me disse que o peso dele estava acima do ideal para uma criança de 5 anos e me questionou sobre como era a alimentação. Ele me sugeriu diminuir alguns alimentos e inserir outros mais saudáveis na rotina”.
No entanto, foi em uma consulta com a psicóloga que o maior problema foi descoberto. “Ele estava com compulsão alimentar por ansiedade. Ele comia não para saciar a fome, mas sim porque estava nervoso ou ansioso com alguma coisa. Depois disso, passei a controlar a quantidade, o tempo da refeição e colocar mais frutas no cardápio entre uma refeição e outra”.
Adriana revela que também precisou lidar com os comentários na própria família. “O pessoal não entendia e pensava que era falta de educação ou simplesmente gula da criança, quando, na verdade, era um problema que precisava ser tratado. Hoje controlo a dieta dele e tenho ensinado sobre alimentação saudável e incentivado a prática de atividades”, conclui.