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Mercado de cannabis medicinal pode mobilizar diversos setores da economia

Indústria pode atrair até US$ 30 bilhões e gerar 300 mil empregos dentro de 10 anos / Foto: Pixabay

Com a flexibilização do uso e liberação do plantio de cannabis em diversos países, a indústria não para de crescer. Em uma publicação no portal Businesswire, os analistas projetam que o mercado global chegará a US$ 42,7 bilhões em 2024. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (Abicann), estima-se que a indústria possa atrair até US$ 30 bilhões e gerar 300 mil empregos dentro de 10 anos, sendo que US$ 15 bilhões estariam concentrados na área medicinal.

A consultoria Kaya Mind, que produz dados sobre o mercado canábico brasileiro, estima que o setor de medicamentos gerou R$ 130 milhões em 2021, e que o perfil do público interessado no ramo possui um equilíbrio entre os gêneros. São 50% de homens e 49% de mulheres dispostos a entender como funciona e quais as oportunidades que o setor oferece. Enquanto isso, apenas 1% preferiu não se posicionar. Esse levantamento foi realizado com 1.022 entrevistados durante a Medical Cannabis Fair 2022, realizada no início de maio, junto com a Medical Fair Brasil.

Fabrízio Postiglione, CEO de uma farmacêutica brasileira que promove o acesso a produtos, serviços e educação sobre a cannabis medicinal, diz que o mercado está ganhando notoriedade e dissipando conhecimento. “Em 2019, quando cheguei ao Brasil, tínhamos pouco mais de 200 prescritores e, hoje, os últimos dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mostram que mais de 5.500 médicos já a prescrevem. Tenho orgulho de poder presenciar esse crescimento. Ainda temos uma demanda reprimida, mas é um ponto que está ajudando no crescimento. Atualmente, temos mais pacientes e familiares pedindo pelo treinamento do que os médicos, o que acaba criando a necessidade de especialização por parte deles”.

Ele explica que a indústria é gigante e pode ser usada em praticamente todos os setores da economia, como setor farmacêutico, cosmético, agrícola, alimentício, têxtil, entre outros e que é importante distinguir a cannabis medicinal, da recreativa e do cânhamo industrial. “Mesmo existindo receio dos políticos em se envolver com a causa, acredito que ‘contra fatos não há argumentos’. Ela funciona como remédio para diversas patologias, o que falta é a informação chegar aos responsáveis pela tomada de decisões. Vejo que a aceitação está crescendo, porém temos muito trabalho a fazer para informar e quebrar os paradigmas”.

Para Postiglione, a falta da regulamentação deixa o país atrasado em comparação a outras nações, assim como a deficiência na educação e o preconceito sobre o tema. “Mesmo com a atual evolução, as dificuldades ainda se encontram em diversos setores que envolvem a indústria, por exemplo, para abrir conta em banco, empresas que aceitam transportar esses produtos, profissionais qualificados e com experiência no setor, problemas para publicidade e marketing nas redes, entre outros”.

O CEO esclarece que entender o fluxo da indústria e os riscos são essenciais para investir no segmento. “Conhecer os planos da empresa, os profissionais que estão à frente e qual é a estratégia de negócio que eles estão se preparando para entrar é fundamental. No caso de uma indústria que ainda está em desenvolvimento, onde as regulações e leis estão se consolidando, isso é mais vital. Acredito em um crescimento orgânico, consciente, seguro e cheio de oportunidades”.

M.L.*, mãe de uma criança portadora de paralisia cerebral e epilepsia, conta que o filho faz o uso do canabidiol para melhorar as crises convulsivas. “Ele fazia tratamentos como fisioterapia e fonoaudiologia, mas não apresentava muitos avanços. Quando fui apresentada a essa alternativa, primeiramente, tive preconceito, depois percebi as inúmeras patologias que podiam ser tratadas por meio desses medicamentos e achei que deveria dar uma chance pelo bem dele”.

Ela conta que hoje, meses após o início do uso, ele apresentou melhora significativa. “Vejo ele vivendo melhor, fazendo coisas que podem parecer pequenas, mas que meu filho não fazia antes. Observo um mercado promissor que deve ser estudado e avaliado pela legislação brasileira”. 

*A pedido da entrevistada, o seu nome foi preservado.