Seja por oferecer um atendimento melhor, taxas mais baixas ou isenção de anuidade, o fato é que os bancos digitais estão ganhando cada vez mais clientes no Brasil. De acordo com pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), entre os consumidores que utilizaram cartão de crédito nos últimos 12 meses, a maioria (76%) foi de instituições financeiras tradicionais e 36% de lojas varejistas. No entanto, 21% dos entrevistados já adotam cartões de crédito ligados a fintechs ou bancos digitais como meio de pagamento no dia a dia. Esse número cresce ainda mais entre os mais jovens, chegando a representar 32% dos casos.
Para o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizzaro Junior, há um alto descontentamento do público em geral com os serviços bancários tradicionais, seja em função da qualidade dos serviços prestados, seja pelo seu custo. “Além disso, os novos bancos supriram também a demanda não atendida das novas gerações por rapidez e imediatismo por meio da presença generalizada da internet e da tecnologia, trazendo a possibilidade de realizar todo tipo de serviço financeiro diretamente pelo celular”.
A pesquisa aponta que os principais atrativos para a escolha do serviço dos bancos digitais são isenção de anuidade, juros e taxas mais baixas em relação aos bancos tradicionais (54%). Além disso, 49% apontam a vantagem de resolver tudo pelo celular, sem a burocracia do atendimento presencial em uma agência. Outros 41% destacam a aprovação de crédito mais rapidamente e de forma menos burocrática.
Outro ponto destacado por Pellizzaro é o fato de que os bancos tradicionais, assim como diversos outros segmentos da economia, estão passando por um período de transformação. “A diferença é que as mudanças hoje acontecem de maneira mais rápida e dinâmica do que nas décadas passadas, de forma que a adaptação das empresas também precisa acontecer de modo mais ágil caso queiram se manter competitivas”.
Para o futuro, a tendência é que os aplicativos se façam cada vez mais presentes na vida das pessoas. “Eles chegaram para atender não apenas as antigas demandas reprimidas, mas uma série de novas necessidades que surgiram com a tecnologia e a modernização das relações sociais. E os bancos tradicionais podem sair deste período de mudanças fortalecidos, encontrando na competição com as recém chegadas fintechs o incentivo necessário para renovarem a forma de entregar seus serviços, priorizando qualidade e agilidade, mas aliadas a um custo mais baixo do que o cobrado atualmente”.
Uma das pessoas que já optaram por ter uma conta em um banco digital é a funcionária pública Ana Paula Castro. Ela conta que também mantém uma conta ativa em uma instituição tradicional, mas optou por cancelar o cartão de crédito nesse local e fazê-lo em uma fintech. “Os bancos digitais são bem menos burocráticos e o atendimento é rápido, além de serem mais vantajosos até para investir. Eu tinha um dinheiro aplicado no banco tradicional e ele ficou por anos lá sem que ninguém me desse uma ajuda de como aplicá-lo de maneira mais eficiente. Quando eu coloquei o valor na fintech, logo me disponibilizaram um e-book com dicas de investimento”, conta.
Cada vez mais presente
Outra tendência apontada pela pesquisa é o uso cada vez mais constante do cartão de crédito para as compras parceladas. De acordo com o levantamento, 7 em cada 10 (77%) consumidores recorreram ao cartão para despesas pessoais no último ano, sendo que 66% fizeram uso todos os meses. Em média, os usuários possuem cinco parcelas a serem quitadas nos próximos meses, enquanto 26% não possuem nenhuma compra parcelada.
O presidente do SPC Brasil diz que além da praticidade, agilidade e possibilidade de parcelar as compras, o uso do cartão de crédito tem relação direta com a chamada “dor do pagamento” pela economia comportamental. “Quando uma compra é paga em dinheiro, por exemplo, o consumidor sente essa dor na mesma hora, já que vê de forma concreta uma parte do seu dinheiro indo embora. Com o cartão de crédito isso não acontece, e essa dor é postergada para o momento em que chega a fatura. Esse fato acaba sendo um grande incentivador do uso da modalidade, mas pode ser também um fator de descontrole financeiro”.
E para evitar a desordem nas finanças, Pellizzaro dá algumas dicas. “O planejamento financeiro é fundamental. É preciso se preparar com antecedência para o mês, analisando as receitas e despesas do período, que eventualmente podem também incluir compras não essenciais, desde que estejam planejadas. Por exemplo, não há problema em um mês específico direcionar alguma quantia para a compra de um item de lazer, desde que essa compra respeite os limites orçamentários. No caso das compras não planejadas, é essencial que o consumidor analise suas contas (saldo bancário e valor da fatura) e verifique se, de fato, possui condições financeiras de arcar com aquele custo. O cuidado é redobrado quando falamos de parcelas no cartão de crédito, já que o acúmulo de prestações pode ser o grande vilão das contas no final do mês