Os aparelhos smartphones estão cada vez mais presentes na vida da maioria das pessoas. A tecnologia ajuda a aproximar quem está longe, mas também pode afastar quem está perto e trazer complicações, principalmente aos relacionamentos. Uma pesquisa realizada pela Kaspersky Lab revelou que 55% dos casais já brigaram por causa do uso excessivo do dispositivo por parte do companheiro.
Esse é o caso da supervisora de vendas Angélica Martins. “Meu ex-namorado era publicitário e vivia em função de trabalho, atender clientes e conversar com amigos e familiares pelo celular. Ele mal acordava e pegava o aparelho para ver as mensagens, ficava conectado o tempo todo e até ia no banheiro com o telefone. Durante as refeições e nos nossos momentos de lazer era assim. Eu me sentia muito sozinha”, relembra.
Ela diz que a situação nem sempre foi dessa forma. “Quando começamos a namorar, ele usava o celular moderadamente e dava mais atenção ao nosso relacionamento. Toda vez que a gente saía, o smartphone ficava sempre no bolso. O problema começou depois que ele foi promovido no emprego. Parece que aumentou a cobrança e a quantidade de serviço. Eram centenas de notificações de redes sociais aparecendo na tela, e-mails e telefonemas”.
Angélica conta que o celular parecia mais importante para o namorado do que ela. “Nós ficamos juntos por quase 2 anos. Chegou ao ponto de eu ter que mandar mensagem para ele estando ao meu lado. Já discutimos feio depois de uma sessão de cinema, porque ele passou o filme inteiro mexendo no telefone. Não adiantava pedir para não usar, pois 5 minutos depois fazia a mesma coisa. Eu decidi dar um basta e terminar o relacionamento”.
O estudo também mostrou números curiosos sobre o uso da tecnologia. Metade dos casais disseram compartilhar a senha ou a combinação pessoal de desbloqueio do próprio celular. 3% dos entrevistados confessaram ultrapassar o limite da privacidade e acessarem o aparelho do outro sem consentimento. No quesito privacidade, 61% admitem que não gostariam que o companheiro soubesse das suas atividades on-line, principalmente quanto ao conteúdo das mensagens enviadas a outras pessoas.
Para a psicóloga e terapeuta de casais Vanessa Ribeiro, o problema tem nome. “É conhecido como phubbing, sendo a junção das palavras phone (telefone) e snubbing (esnobar). Ele é usado quando uma pessoa ignora as outras ao seu redor por causa do celular. Hoje, o problema é bem comum e um grande incômodo para a maioria dos casais. Alguns conseguem superar, enquanto outros não aguentam e optam pela separação”.
Vanessa explica que a tecnologia não é a vilã. “Quase todo mundo está conectado. A questão é quando as interações físicas são substituídas pelo celular. O parceiro se sente desprezado e dificilmente os dois estarão felizes no relacionamento. Intrigas começam a surgir e vão ficando piores, ainda mais quando o outro precisa implorar para ter atenção”.
Ainda de acordo com a psicóloga, a privacidade no celular também pode gerar confusão. “O uso excessivo pode desencadear desconfiança no parceiro. Isso porque a maioria dos smartphones possui senha para acessar. A confusão começa quando um não quer passar esse código ou não quer mostrar o que estava fazendo na tela. Nesse aspecto, a confiança fica abalada e vai dissolvendo a relação”.
Ela salienta que o melhor a fazer é tentar o diálogo e ter paciência. “Chegar para o outro e dizer para ele parar de usar o celular não é uma boa ideia. O aconselhado é que os dois conversem e deixem claro que a situação os incomoda. Tentar mostrar o quanto a relação está sendo prejudicada pelo uso demasiado. O casal pode chegar a um acordo e estabelecer momentos para ficar longe do dispositivo”, finaliza.