O consumo de artigos usados tem sido uma alternativa encontrada pelos brasileiros para driblar as dificuldades trazidas com a crise. Dados colhidos pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) Brasil apontam que 33% dos consumidores adquiriram algum produto de segunda mão pela internet.
O levantamento ainda revela que 62% deles costumam verificar a possibilidade de comprar um item usado antes de um novo. Dentre as principais procuras, estão os celulares (20%), carro/moto (19%), livros (17%) e eletrodomésticos (17%).
A demanda por artigos de segunda mão foi compreendida pelo mercado. Prova disso é que, de acordo com uma análise do Sebrae, com base em dados da Receita Federal, nos anos de 2020 e 2021, o crescimento de empresas que comercializam produtos usados subiu 48,58%. “Dentro do cenário pós-pandemia, muitos insumos aumentaram os preços e a população que perdeu poder aquisitivo precisou priorizar itens básicos. A solução imediata foi buscar o que cabe no bolso. O mercado de usados chegou como uma opção viável para adquirir roupas, móveis, entre outras coisas”, explica a analista do Sebrae, Karina Hanun.
Ela acrescenta que esse setor é de extrema importância, pois incentiva a circulação de dinheiro, reutiliza e ressignifica objetos, além de aumentar o ciclo de cada um deles. “O mercado de usados também gira a economia, só que com valores mais acessíveis. Para quem vende, é a chance de gerar renda extra, para quem compra, a vantagem é adquirir boas peças por um preço mais em conta. Além disso, o reuso e o prolongamento do ciclo de vida útil provoca menos impacto ao meio ambiente”.
O economista Mathias Naganuma explica que, na pandemia, as pessoas começaram a perceber que não é preciso ter tantas coisas em casa. “Muita gente resolveu desapegar e encontrou uma forma de ter uma grana complementar. Esse mercado possibilita a circulação de bens e valores que, até um tempo atrás, eram praticamente inexistentes. Mostra ainda uma preocupação com a forma de consumir”.
Para o diretor de uma empresa que compra e revende equipamentos usados, Ricardo Michelazzo, a principal vantagem desse negócio é adquirir um produto de qualidade com um preço acessível. “Com nosso trabalho, muitos têm a chance de obter computadores a um valor mais baixo. Esse tipo de material não é reciclado como lixo e costuma dispor de uma vida útil maior do que a que damos a eles. Para se ter uma ideia, 98% dos itens que chegam para nós são recolocados no mercado em excelentes condições de uso”.
A empresa que iniciou como uma assistência técnica, após um tempo, acabou mudado de foco, uma vez que o dono percebeu que poderia entregar a solução para pessoas que precisavam de um novo computador e não se importavam que ele fosse de segunda mão. “Nós fazemos as coletas dos produtos in loco, avaliamos a possibilidade de restauração e, depois do conserto, eles voltam para o mercado. Todo o lucro dessas vendas é revertido em projetos de impacto social”.
Preço baixo, mas com lucro
Karina explica que, para determinar o preço de um produto de segunda mão é importante fazer uma pesquisa na internet. “O ideal é comparar a condição atual do artigo com a de quando ele foi comprado. O cálculo da precificação de um item usado varia entre 30% a 80% do valor original. Na hora de vender, a pessoa deve justificar o estado da mercadoria, ou seja, colocar em uma escala a qualidade que o cliente irá encontrar, por exemplo 6/10 para algo com mais tempo de uso”.
Para Naganuma, outra alternativa é perguntando a si mesmo: quanto eu pagaria nesse item? “Outro critério é fazer um cálculo dividindo o preço pelas vezes que ele foi usado e descontar esse valor. Contudo, é sempre importante avaliar a mercadoria, se for um artigo de luxo, por exemplo, o custo agregado é mais alto. Tudo depende do tempo em que a pessoa deseja se desfazer do objeto, pois uma hora aparece alguém que queira comprar”, conclui.