Os pequenos negócios mineiros fecharam 2021 com um saldo de emprego quase quatro vezes maior que o das médias e grandes empresas (MGEs). Enquanto as micro e pequenas empresas (MPEs) geraram 232.942 postos de trabalho ao longo do ano, as MGEs totalizaram um saldo de 61.778 vagas, conforme mostra o levantamento realizado pelo Sebrae Minas com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério da Economia. Proporcionalmente, sete em cada 10 novos postos criados em Minas Gerais em 2021 foram gerados pelos pequenos negócios.
Nos últimos 12 meses, o saldo acumulado de empregos nas MPEs também disparou. Em 2020, a diferença entre admissões e demissões foi de 8.469 vagas, ou seja, cerca de 27 vezes menor que o resultado total em 2021. O setor de serviços foi o principal gerador de postos com 94.223 empregos, um aumento aproximado de 1.400% em relação a 2020. O ramo é seguido pelo segmento de comércio, que ficou em segundo lugar com 62.865 vagas em 2021. A indústria de transformação ficou na terceira posição, com um saldo de 38.819 empregos.
A analista do Sebrae Minas, Gabriela Martinez, explica que os pequenos negócios representam 99% do total de empresas no estado e correspondem a 57% do emprego formal. “Eles são os maiores empregadores de Minas Gerais. Por ter uma natureza dinâmica, esses empreendimentos conseguem responder de forma mais rápida aos estímulos e expectativas do mercado. Ao sentirem efeitos de crise, são os primeiros a sofrerem, por outro lado, reagem rapidamente à retomada econômica, voltando a contratar mão de obra para garantir a atividade”.
Ela acrescenta que tanto 2020 quanto 2021 foram anos que tiveram impactos derivados da pandemia de coronavírus. “Em 2020, ano que foi marcado pela paralisação de muitas atividades econômicas, vimos impactos negativos no mercado de trabalho, com número alto de demissões, principalmente entre os pequenos negócios. Já em 2021, com a chegada da vacina e a retomada econômica, os empresários se viram confiantes para voltar a contratar”.
Para a analista, a geração de empregos seguirá positiva em 2022. “A expectativa é que esse setor continue abrindo novos postos de trabalho, mas de uma forma menos expressiva que em 2021, visto que já foram recuperadas aquelas vagas perdidas durante a crise da COVID. Isso se não houver novos choques inesperados que afetem o cenário econômico”.
Importância nacional
O professor de economia Mathias Naganuma relata que não é de hoje que os pequenos negócios possuem uma enorme relevância para a economia do país. “Segundo pesquisa realizada pela Fundação Getulio Vargas, em 2011, os pequenos negócios correspondiam a 27% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. E, de acordo com os últimos dados levantados em 2020, os pequenos negócios representaram 30% de nossas riquezas e responsáveis por mais de 52% do emprego gerado no país”.
Para ele, esse tipo de atividade tem força no país por diversos fatores. “O primeiro é que o brasileiro é criativo e um empreendedor nato, somado às regulamentações do governo como a Lei Geral da Micro e Pequena Empresa (2006) regras específicas e mais benéficas para o Microempreendedor Individual – MEI. Além do mais, no momento de crise, com alta no desemprego, redução de salários, isolamento social, nosso povo teve que se reinventar e procurar alternativas para garantir sua subsistência, o que acabou por impulsionar ainda mais o desejo dos brasileiros em ter o próprio negócio”.
Foi o que aconteceu com a engenheira Vanessa Marques. Ela perdeu o emprego no início da pandemia. Após um tempo de procura, percebeu que se recolocar no mercado seria mais difícil do que imaginava. Sendo assim, a opção foi empreender. “Vi que o consumo de bebidas alcoólicas estava aumentando e surfei nessa onda. Comecei a vender, primeiro pelo WhatsApp, aí passei para o Instagram e, agora, estou em vários aplicativos. Vendo todos os tipos de bebida e o negócio deu muito certo”.
Ela disse que formalizou o negócio em 2021. “Em junho, vi que a demanda por atendimento crescia muito em determinados horários. Além de todo o cuidado com controle de estoque, compra, armazenamento, redes sociais, etc decidi contratar uma funcionária para me auxiliar. Tive medo de não conseguir arcar, mas com organização tudo fluiu”.
Para Naganuma, levando em consideração que as micro e pequenas empresas representam mais de 50% dos postos de trabalho formal em nosso país e mais de 30% do PIB nacional, não há como afirmar algo diverso. “Esse setor é extremamente importante para a economia hoje”.