Não é fácil encarar o diagnóstico de um câncer. Para muitas pessoas, a notícia assusta e pode soar como uma sentença de morte. No entanto, os tratamentos para a doença evoluíram nos últimos anos e estão cada vez mais eficazes. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza gratuitamente todos os exames e tratamentos, mas tem uma fila de espera. Como alternativa, a solução é recorrer aos planos de saúde ou de forma particular e cada um tem seu preço, dependendo do estágio da doença.
O Observatório de Oncologia publicou um estudo em 2016 sobre quanto custa tratar um paciente com câncer pelo SUS. O levantamento levou em consideração o tipo que mais acomete as mulheres: o HER-2 Negativo com RH+, pré e pós-menopausa. Em estágios mais avançados, o valor chega a ser quase oito vezes mais caro do que se a doença tivesse sido detectada em seu estágio inicial. Os valores incluem tratamento cirúrgico, quimioterapia, radioterapia e medicamentos.
A coordenadora do Departamento de Pesquisa da Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), Nina Melo, explica que o custo médio para cirurgia de mastectomia em todos os estágios é de R$ 2.253,96. Ela reconhece que existe uma fila de espera, mas que não há nenhuma pesquisa para precisar este tempo. “A prevenção e detecção precoce do câncer, além de salvar vidas, ajuda no campo socioeconômico, pois além do tratamento ser mais custoso em fases mais avançadas, há uma perda econômica para a sociedade por conta das mortes prematuras”, ressalta.
O Ministério da Saúde diz que expandiu a oferta de exames para a detecção precoce do câncer de mama. Em 2017, realizou mais de 4 milhões de mamografias de rastreamento no SUS, sendo 2,6 milhões na faixa etária prioritária preconizada pela Organização Mundial da Saúde, que são mulheres de 50 a 69 anos. A pasta também dobrou os recursos destinados para o tratamento, passando de R$ 2,2 bilhões em 2010 para R$ 4,6 bilhões em 2017.
O preço de uma vida
A professora de educação física Vanessa Pessôa enfrentou um câncer de mama recentemente. De acordo com ela, é difícil encontrar uma pessoa que arque com todas as despesas de exames, medicamentos e tratamento por conta própria. “Os procedimentos são muito caros e nem todo mundo tem condição financeira de pagar. A maioria possui plano de saúde ou faz pelo SUS”, afirma.
Vanessa tem plano e diz que paga mensalmente cerca de R$ 400. “Ele é coparticipativo e toda vez que eu uso é cobrada uma taxa. Ademais, precisei desembolsar quase R$ 4 mil com os exames que tive que fazer para detectar o câncer, além das diversas consultas e o pré-operatório”.
Os gastos com a doença não pararam por aí. “A ideia era fazer a retirada e a reconstrução mamária imediata, mas também não tive sorte com a médica cirurgiã plástica do plano. Ela disse que não havia vaga e eu teria que aguardar. Mas todo mundo sabe que o câncer é uma doença séria que não pode esperar”.
Ela decidiu procurar um especialista particular. “Ele disse para eu ficar despreocupada, pois, mesmo sendo particular, meu plano daria o reembolso de parte do valor. A cirurgia foi dividida em três etapas: a mastectomia com a reconstrução, simetrização para deixar os dois lados dos seios do mesmo tamanho e a reconstrução da aureola e do mamilo”.
Inicialmente, Vanessa teve que arcar com todos os procedimentos do próprio bolso. “O valor total chegou a R$ 15 mil. O plano devolveu cerca de R$ 7 mil, referente as duas primeiras cirurgias. Agora estou lutando para conseguir o reembolso da terceira e última etapa”.
É direito da paciente
O temor de muitas mulheres ao receber o diagnóstico do câncer de mama é ter que retirar o seio, símbolo de feminilidade. Desde 2013, a Lei 12.802/2013 garante a reparação da mama nos casos de mutilação decorrentes de tratamento do câncer. Se houver condições, a reconstrução será efetuada no mesmo tempo cirúrgico. Caso não seja, fazer de imediato, será feito o acompanhamento até alcançar as condições clínicas.