Dados de uma análise feita pelo Observatório da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipesbe) apontam que a chegada do coronavírus afetou a saúde mental e emocional de 57% dos brasileiros. Por isso, muitos têm buscado meios de aliviar os impactos causados pelo momento atual. Prova disso é que, segundo estudo feito pelo V. Trends, hub de insights da Vivo, o número de adeptos da meditação cresceu 45%.
A análise mostra que o público que mais buscou a técnica é o de 18 a 24 anos. Quase metade desse grupo iniciou a prática há 18 meses. As mulheres representam 58%. Segundo a pesquisa, a tecnologia tem sido uma aliada, uma vez que estima-se que, atualmente, 69% dos praticantes usam aplicativos como guia na hora de meditar. Destes, 90% relatam ter uma experiência muito boa com a modalidade. Os números ainda revelam que a meditação se tornou um hábito: 85% praticam toda semana, enquanto que 38% diariamente.
O estudo também assinala que os praticantes têm ciência dos efeitos positivos, tanto que 70% afirmam meditar para diminuir a ansiedade, enquanto que 68% mostram certa preocupação em cuidar da saúde mental. Nesse caso, as mulheres estão mais atentas à importância disso, principalmente as de 24 a 35 anos.
Para a psicóloga Alessandra Augusto, esse aumento na procura ocorre, justamente, pelo estresse que a pandemia trouxe. “Houve uma ampliação considerável nos índices de ansiedade e síndrome do pânico. Tudo isso sinaliza que existem níveis de desequilíbrio emocional agudos na população e que foram potencializados pela COVID-19”.
Ela acrescenta que a meditação é uma ferramenta que auxilia na busca pela clareza dos pensamentos e acessibilidade do inconsciente. “Ela alcança uma compreensão das emoções do indivíduo, reduzindo o estresse e trazendo mais equilíbrio entre corpo e mente”.
Segundo a psicóloga Sônia Eustáquia, a prática auxilia nos tratamentos convencionais, aliviando a angústia em tempos de medo e incertezas, já que promove o bem-estar e ajuda a desacelerar. “Ela concentra e controla a atenção no presente. Assim, a pessoa foca no momento em que está vivendo. Nesses minutos, a ideia é observar o seu próprio corpo e sensações”.
Como a respiração da meditação prepara para a estabilidade, acalma a mente e o corpo, também é indicada antes de dormir. “O relaxamento profundo permite que a pessoa adormeça mais rapidamente e com qualidade, já que comunica para o corpo que é um momento de mudança e de deixar o dia que passou para trás. Na parte física, ajuda a relaxar em situações de tensão muscular, após longos períodos de trabalho, por exemplo”, explica Sônia.
A especialista destaca ainda que com a prática é possível perceber uma série de benefícios. “Melhor controle dos pensamentos e manutenção do foco nas atividades; auxílio no tratamento da depressão e diminuição das chances de recaída; domínio do estresse e ansiedade; redução da insônia; evolução do foco e do rendimento no trabalho e estudos; equilíbrio da pressão alta; maior controle da glicemia no diabetes”.
A empresária Ana Paula Sales iniciou na meditação após participar de uma jornada emocional pelas redes sociais. “Eu estava passando por um momento delicado emocionalmente pela pandemia e correria no trabalho. Estava difícil administrar o tempo e lidar com tantos desafios, tudo isso estava trazendo angústia e ansiedade. Separei uma caderneta de gratidão e escrevia, no mínimo, 10 motivos para agradecer antes de dormir e, com isso, fui criando uma rotina”.
Ela conta que começou a acordar, ouvir música, rezar e praticar a meditação através da leitura. “Nada muito longo, porém poderoso e transformador. Às vezes, o sono e o desânimo apareciam, mas fiz tudo o que consegui para não desistir. Como resultado, hoje, me conheço melhor e sei entender minhas emoções”.
Como iniciar a prática?
Ivy Farias, terapeuta de Thetahealing, explica que não existe certo e errado na hora de meditar. “Quando alguém consegue se concentrar em algo, seja por 17 segundos ou 5 minutos, ali está uma libertação, pois nada que existe na realidade foi capaz de impedir a verdadeira concentração e, consequentemente, conexão. Quando se experimenta esta sensação, todas as demais se tornam possíveis trazendo mais qualidade de vida no dia a dia”.
Por fim, Ivy recomenda que a pessoa desmistifique o que é meditação. “É possível meditar de várias formas (lendo, fazendo atividades manuais e até mesmo em silêncio). O importante é a intenção de focar e contemplar”.
Sônia diz que no início é comum a mente querer fugir. “Na hora de meditar desligue o celular, o computador e evite distrações. A pessoa deve ficar em um ambiente tranquilo. Além disso, encontre uma posição confortável e comece a prestar atenção na respiração, no batimento do coração e nas sensações do corpo. Se algum pensamento surgir, não se prenda a ele”, conclui.