Não é novidade que a pandemia tem impactado negativamente em diversos setores da economia. Vários segmentos sofrem com quedas bruscas nas receitas, alta no preço de insumos para produção e dificuldade para conseguir retomar o crescimento. Esse não é o caso do mercado editorial. Dados do Sindicato Nacional dos Editores de Livro (Snel) apontam um aumento de 38,26% no faturamento em relação a 2020, totalizando um volume 44,39% maior. No primeiro semestre de 2021 o crescimento representou 48,5% quando comparado ao mesmo período de 2020.
Para o presidente do Snel, Marcos da Veiga Pereira, esse momento que vivemos propiciou o redescobrimento do prazer de ler. “As pessoas buscaram nos livros o entretenimento necessário para lidar com o isolamento social. Houve elevação na venda de livros impressos e também de conteúdo digital, cujo consumo registrou avanço de 81% em relação ao ano anterior”, explica.
Ele acrescenta que foi preciso que todo o setor se reinventasse para conseguir suprir as demandas. “Para driblar o cenário adverso, as editoras e livrarias intensificaram os esforços comerciais e o estímulo às ações promocionais. Houve também uma ampliação da interação nas redes sociais, além da oferta de bons lançamentos”.
Bruna Rezende, jornalista e autora do livro “Marcados pelo Tempo”, relata a experiência de promover uma obra em tempos pandêmicos. “Foi um pouco frustrante, pois queria poder ter feito um evento presencial, mas não quis esperar muito. Após o lançamento, ainda tive que mudar de editora, pois a primeira encerrou as atividades. Isso deixou meu livro fora das principais plataformas digitais por um tempo, mas agora já está em sua segunda edição”.
Apesar dos percalços no caminho, o aumento nas vendas do ramo a mantém positiva. “Defendo a literatura com todas as minhas forças. Saber que tem mais gente descobrindo o prazer que o ato de ler traz, é gratificante. Espero que depois da pandemia, o hábito se mantenha e se expanda ainda mais”.
O artista visual e sócio de uma editora mineira, Wallison Gontijo, notou que, de fato, os números do segmento a partir da pandemia foram bons. Entretanto, na opinião dele, nada comparado ao que era antes. “Houve uma cooperação do mercado editorial, da venda de livros e do aquecimento do setor como um todo. A literatura passou por momentos interessantes durante a crise sanitária, principalmente pelo avanço das vendas on-line. A arte é um aconchego e as pessoas sentiram isso com os livros”.
Segundo Gontijo, o impacto do distanciamento foi grande para a empresa. “Temos a característica do livro impresso e do encontro. Eles são semiartesanais e tem um processo de tipografia, relevos e acabamento diferenciados. Por isso, sentimos falta das feiras físicas, onde toda a equipe envolvida naquela obra podia dialogar com o público. Para a gente, isso é fundamental”.
Dono de uma livraria na capital, Oséias Ferraz aponta que, em sua opinião, a informação de desenvolvimento do setor é falha. “Não necessariamente uma mentira, mas leva em conta a média do segmento, puxada pelos grandes grupos. Deixa de lado o peso negativo que a diminuição da circulação de pessoas significou para os pequenos negócios. Penso que empresas maiores conseguiram se adaptar à nova realidade de vendas virtuais e não apenas compensar as perdas presenciais, mas ainda aumentaram o faturamento para novos clientes que, de repente, tinham mais tempo à disposição em casa”.
Ele relata ter sentido muita diferença no faturamento. “Até 2019, era de quase 65% em vendas virtuais e 35% nas presenciais. Ficamos fechados de março de 2020 até setembro de 2021. Deixamos de ter o lucro presencial e as vendas on-line não se mantiveram no mesmo patamar. Creio que isso se deve a ações mais agressivas dos grandes comércios a partir de maio do ano passado”
Gontijo ressalta que 2022 deve ser mais um ano difícil. “Tudo está mais caro por causa da inflação, inclusive os livros. Por isso é preciso replanejamento pela pandemia, que ainda não acabou, e pelas eleições que estão por vir”.r causa da inflação, inclusive os livros. Por isso é preciso replanejamento pela pandemia, que ainda não acabou, e pelas eleições que estão por vir”.
O presidente da Snel também prefere ser cauteloso quanto às expectativas para o ano que vem. “Ainda é cedo para projetar 2022, pois a crise sanitária nos mostrou que tudo pode mudar muito rápido. Contudo, a perspectiva é fecharmos este ano com faturamento 25% superior ao registrado em 2020”, conclui.