Ácaros, fungos, pólens, pelos de animais de estimação, exposição ao frio, fezes de barata, fumaça de cigarro, poluição ambiental e produtos químicos são alguns dos gatilhos para desenvolvimento e piora da asma. A estimativa da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) é de que 20 milhões de brasileiros sofram com a enfermidade. E, segundo a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), desse total, cerca de 16% desenvolveu a doença devido à função que exerce no ambiente de trabalho – chamada de asma ocupacional.
Como explica José Elabras Filho, médico e especialista em alergia, imunologia e pneumologia, os sinais da doença devido à profissão são os mesmos que os de origem genética. “Essa inflamação é decorrente de estímulos externos como alérgenos e poluentes. Seus sintomas são falta de ar, tosse e chiado no peito, geralmente, recorrentes e associados à exposição a um fator desencadeante. A asma ocupacional sempre deve ser pensada e investigada pelo especialista, por meio da história clínica, avaliação do ambiente de trabalho, exames imunológicos, provas de função pulmonar, testes de provocação específicos e avaliação da inflamação”, esclarece.
Segundo Filho, por lidarem com produtos químicos e biológicos, os profissionais das áreas da saúde, limpeza e indústria são os mais atingidos, entre eles, incluem-se padeiros, agricultores, cabeleireiros, marceneiros e pedreiros.
Comerciante há quase três décadas, Divina Primo, 61, é proprietária de uma pousada e desenvolveu asma devido à alta frequência de uso de produtos de limpeza, lavanderia e fumaça de cigarro. “Sempre fiz tudo sozinha. Faxinava quartos diariamente e, em épocas de movimento intenso, até mais de uma vez no mesmo dia, sempre com soluções fortes para desinfectar. Além disso, lavava muitas roupas de cama e recebia hóspedes de todo tipo, alguns anos atrás, era comum que eles fumassem em qualquer lugar. Por muito tempo, não tinha uma lei que proibisse. Conversando com minha pneumologista, ela concluiu que isso tudo fez com que eu desenvolvesse a doença”, relembra.
A asma não tem cura, mas existem tratamentos que melhoram os sintomas e proporcionam o controle da doença. Divina diz viver uma vida normal, desde que siga algumas regras, como evitar os gatilhos, usar a medicação controladora e consultar periodicamente com a médica.
“Hoje, eu não aceito fumantes. É proibido fumar em qualquer área da pousada. Uso máscara e luvas para limpeza. Como não posso com nenhum tipo de fumaça, evito ir em reuniões de família em que vai ser feito churrasco. E, no meu quarto só fica a cama que durmo, tirei guarda-roupas, cortinas, tudo, para evitar qualquer cheiro de ácaro ou mofo, mesmo que eu não perceba. Tem gente que acha extremo, mas, para mim, é o que funciona, é assim que passo muito tempo sem crises”, afirma.
Como explica Filho, o tratamento da asma ocupacional é similar ao de outros tipos. “Mas o controle da exposição ao agente tem enorme relevância nestes casos e consiste no afastamento do local e o uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) adequado. Também são receitados medicamentos com corticosteróides e broncodilatadores inalatórios em esquemas baseados na intensidade dos sintomas e achados funcionais pulmonares do paciente”, relata o especialista.
De acordo com a ASBAI, não existe uma legislação clara que obrigue a empresa a fazer mudanças ou adaptações, seja de reorganização de cargo ou do componente utilizado para exercício da função, após a constatação de que o funcionário é alérgico a determinado produto. Porém, a recomendação inicial é tentar esse diálogo. “Geralmente, ocorre o remanejamento de função dentro da empresa. Casos graves podem ser afastados transitoriamente ou até mesmo ter aposentadoria antecipada, de acordo com a avaliação do perito do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS)”, afirma o médico.